tag:blogger.com,1999:blog-23469548050509070852024-02-20T10:34:27.756-08:00Ávido 2 - textosJNShttp://www.blogger.com/profile/08797195078480904290noreply@blogger.comBlogger19125tag:blogger.com,1999:blog-2346954805050907085.post-16510957943719885502010-08-04T03:47:00.001-07:002010-08-04T03:47:54.000-07:00Castilho on Alçada<span class="Apple-style-span" style="color: #333333; font-family: arial; font-size: 13px;">Quando exprime certezas, erra grosseiramente. Quando responde, afunda-se em equívocos. Quando analisa, não vê os factos. Catita no vestir e no pentear, eis Isabel, leve no pensar, ministra da Educação e fantasista por compulsão.<br />
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A vacuidade e a imprecisão continuada do discurso, primeiro em entrevista ao<i>Expresso</i> de 31 de Julho, depois a vários canais televisivos para emendar a proposta de banir os chumbos, obriga ao exercício penoso de contraditar e esclarecer. Não cabendo tudo, escolho o mais danoso. O <i>Expresso</i> perguntou: pondera então alterar as regras de avaliação durante o seu mandato? A ministra respondeu: pondero. O<i>Expresso</i> insistiu: e está disposta a lançar esse debate para acabar com os chumbos? A ministra respondeu: sem dúvida. O <i>Expresso</i> considerou: muitos dificilmente concordarão com o fim da retenção. A ministra respondeu: por uma questão de tradição. Quando se deu conta da leviandade da proposta e de que muitos não concordavam, a ministra veio às televisões dar o dito por não dito, socorrendo-se dos países do Norte da Europa, cuja realidade ignora.<br />
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O objectivo de qualquer sistema de ensino é que todos aprendam. Mas em todos os sistemas há os que falham. A quantidade dos que falham é consequência de uma gama enorme de variáveis. Umas podem ser intervencionadas directamente pela escola e pelos professores. Outras não. Dependem dos próprios alunos. Das famílias. Da cultura vigente. Da consciência cívica dominante. Da qualidade dos sistemas políticos, da competência dos que mandam, da natureza das escolhas que são feitas e das prioridades que se estabelecem. Os métodos pedagógicos variam. Mas nenhum sistema sério diploma a ignorância como tem sido feito pelos dois últimos governos de Portugal. Esta é a questão e este é o conceito do tradicional chumbo: enquanto um cidadão não sabe o que está estipulado, o Estado sério não diz que ele sabe. E assim postas as coisas, obviamente que há chumbos nos países do Norte da Europa. Invoco, por todos, o caso da Noruega e socorro-me da publicação oficial <i>Facts About Education in Norway, 2010</i>. Na página 11 verifica-se que só 56 por cento dos alunos do secundário completaram o respectivo ciclo de estudos no tempo previsto. Houve 27 por cento de abandonos ou chumbos, 12 por cento que necessitaram de mais tempo e 6 por cento que ainda o tentavam concluir no momento da recolha dos dados (27+12+6 dá 45 e não 44, mas o erro é da própria publicação citada). Não se chumba lá? Nas páginas 22 e 23 estão as tabelas da relação do número de alunos para cada professor: 4 no pré-escolar, 12 no básico, 8,5 no secundário e 11,9 no superior. Ora a nossa ministra da Educação disse ao <i>Expresso</i> que turmas de 15 e menos alunos apresentam baixas taxas de sucesso, quando ela sabe bem que essas são turmas com os alunos mais problemáticos do nosso sistema e só por isso, que não pela dimensão, registam baixos índices de aproveitamento. Foi séria tal referência? Na página 8 da publicação que cito verificamos que mais de 40 por cento das escolas básicas da Noruega são de reduzida dimensão, tendo crianças de idades e níveis diferentes a serem leccionadas na mesma sala (escândalo, paradigma de outro século, segundo os cânones de Isabel Alçada). Se formos à Suécia, a situação é análoga. Os países do Norte fazem o contrário do que aqui acaba de ser imposto. Como comentaria a ministra se a tivessem confrontado com a realidade que ignora ou manipula?<br />
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Referindo-se às competências que os alunos devem adquirir no ensino básico, a ministra teve o topete de dizer ao <i>Expresso</i> que "nem existe documento que as defina". Grosseira mentira. Existe e sobre ele correram rios de tinta.<br />
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Isabel Alçada distorceu os factos quando falou de Inglaterra, onde o insucesso escolar está na ordem do dia. Basta só ver o número dos que não obtêm o certificado que lhes abre as portas das universidades.<br />
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Isabel Alçada não faz a mínima ideia do que se passa na Finlândia ou finge que não sabe, o que é pior. Mais de um quarto dos alunos do sistema tem apoios complementares e 8,5 por cento são objecto de educação especial, segundo uma tipologia rigorosa que aqui foi banida. Todo o ensino é totalmente gratuito e a profissão de professor é das mais prestigiadas. Os normativos duram décadas. O direito ao ensino obrigatório pode ser revogado se os alunos não cumprirem as regras. Um comité aprecia as infracções e pode determinar soluções alternativas. Esta é uma questão tabu que não se discute entre nós, por complexos políticos. Boa parte dos alunos que não aprendem nem deixam aprender não quer estar na escola. As famílias desses alunos pensam e agem como eles. Faltam, agridem, perturbam e nada acontece. Realidade bem diferente da dos países do Norte da Europa, onde a fortíssima consciência e cultura cívicas impedem situação semelhante.<br />
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Termino com números, colhidos das estatísticas oficiais da OCDE e relativos a 2006, expressos em dólares americanos. Portugal gastou com cada aluno do básico, secundário e superior, por ano, respectivamente, 5908, 7052 e 9724. Pela mesma ordem, eis os gastos dos nórdicos. Finlândia: 7570, 6585 e 12.845. Noruega: 9781, 12.559 e 16.235. Dinamarca: 8854, 10.400 e 15.391. Suécia: 8032, 8610 e 16.991. Se atendermos ainda a que desde 2005 as nossas despesas com a educação diminuíram sempre e fortemente, o contraste diz o que Isabel Alçada escondeu.<i>Professor do ensino superior (s.castilho@netcabo.pt)</i></span>JNShttp://www.blogger.com/profile/08797195078480904290noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2346954805050907085.post-22064614066473106902007-05-23T07:08:00.000-07:002007-05-23T07:18:53.076-07:00<div style="font-weight: bold; font-size: 21px; color: rgb(0, 0, 0); font-family: Georgia,Times New Roman,Times,serif; text-decoration: none;">A escola que é um manifesto contra o "eduquês"<a href="http://jornal.publico.clix.pt/main.asp?dt=20070523&id=11375252" target="_blank" onclick="return top.js.OpenExtLink(window,event,this)"> <img border="0" height="10" width="10" /></a></div> <p> </p> 23.05.2007 <p> </p> <div style="font-weight: bold; font-size: 14px; color: rgb(0, 0, 0); line-height: 20px; font-family: Georgia,Times New Roman,Times,serif; text-decoration: none;">É privada, escolhe os professores, recebe todos os alunos do concelho, dos pobres aos ricos, ensina a tabuada, tem quadro de honra, não vai em modas. Fica em Arruda dos Vinhos e perceber como lá se ensina desfaz muitos mitos sobre como deve ser o sistema de ensino <script><!-- D(["mb","\u003c/div\>\n\u003cp\>\u003c/p\>\n\u003cp\>\n\u003cdiv style\u003d\"font-size:14px;color:#000000;line-height:20px;font-family:Georgia, Times New Roman, Times, serif;text-decoration:none\"\>Fica \nem Arruda dos Vinhos, concelho rural dos arredores de Lisboa. É a única escola \ndesse concelho que tem terceiro ciclo do ensino básico e, por esse concelho ter \nsido o único onde a média a Matemática nos exames nacionais do 9º ano foi \npositiva, o PÚBLICO visitou a João Alberto Faria. A reportagem foi publicada \nsegunda-feira, mas vale a pena voltar ao tema. Porque essa escola é um manifesto \nvivo contra o tipo de políticas que têm degradado a qualidade do ensino em \nPortugal. \u003cbr\>Primeiro: naquela escola entende-se, e citamos, que "a \nmassificação do ensino levou a um menor grau de exigência, mas a Matemática não \nse tornou mais fácil e mantém as dificuldades próprias da disciplina"- o que \nrequer "esforço e trabalho". \u003cbr\>Segundo: naquela escola não se embarca em \nmodas, prefere-se cultivar a exigência. Por isso "o grupo de Matemática é pouco \natreito a algumas inovações pedagógicas", por isso defende-se que "saber a \ntabuada é mais importante do que saber utilizar a calculadora", por isso \ninterditaram mesmo a sua utilização no 2º ciclo. \u003cbr\>Terceiro: como sem bons \nprofessores não há boas escolas, na Alberto Faria todos os professores são \nentrevistados antes de serem contratados, explicando-se-lhes qual a filosofia da \nescola e avaliando se os candidatos estão à altura do que se lhes vai pedir. \n\u003cbr\>Quarto: não há nenhuma relação inelutável entre os bons resultados de uma \nescola e o nível sócio-económico da região onde se insere. Arruda dos Vinhos \nestá longe de ser um dos concelhos com mais poder de compra e na João Alberto \nFaria não se seleccionam os alunos, recebem-se todos, mais ricos ou mais pobres. \nMais: recebem-se também alunos de concelhos vizinhos, porque, como explicou um \naluno do 10º ano que quer ir para Medicina, nela "o nível de exigência dos \nprofessores pode ser compensado pelos resultados nos exames, que normalmente \ntendem a ser melhores". Quem responde bem à exigência possui também o estímulo \nde figurar no Quadro de Honra da escola. ",1] ); //--></script></div> <p> </p> Fica em Arruda dos Vinhos, concelho rural dos arredores de Lisboa. É a única escola desse concelho que tem terceiro ciclo do ensino básico e, por esse concelho ter sido o único onde a média a Matemática nos exames nacionais do 9º ano foi positiva, o PÚBLICO visitou a João Alberto Faria. A reportagem foi publicada segunda-feira, mas vale a pena voltar ao tema.<br /><br /> Porque essa escola é um manifesto vivo contra o tipo de políticas que têm degradado a qualidade do ensino em Portugal.<br /><br />Primeiro: naquela escola entende-se, e citamos, que "a massificação do ensino levou a um menor grau de exigência, mas a Matemática não se tornou mais fácil e mantém as dificuldades próprias da disciplina"- o que requer "esforço e trabalho".<br /><br />Segundo: naquela escola não se embarca em modas, prefere-se cultivar a exigência. Por isso "o grupo de Matemática é pouco atreito a algumas inovações pedagógicas", por isso defende-se que "saber a tabuada é mais importante do que saber utilizar a calculadora", por isso interditaram mesmo a sua utilização no 2º ciclo.<br /><br />Terceiro: como sem bons professores não há boas escolas, na Alberto Faria todos os professores são entrevistados antes de serem contratados, explicando-se-lhes qual a filosofia da escola e avaliando se os candidatos estão à altura do que se lhes vai pedir. <br /><br />Quarto: não há nenhuma relação inelutável entre os bons resultados de uma escola e o nível sócio-económico da região onde se insere. Arruda dos Vinhos está longe de ser um dos concelhos com mais poder de compra e na João Alberto Faria não se seleccionam os alunos, recebem-se todos, mais ricos ou mais pobres. <br /><br />Mais: recebem-se também alunos de concelhos vizinhos, porque, como explicou um aluno do 10º ano que quer ir para Medicina, nela "o nível de exigência dos professores pode ser compensado pelos resultados nos exames, que normalmente tendem a ser melhores". Quem responde bem à exigência possui também o estímulo de figurar no Quadro de Honra da escola.<br /><script><!-- D(["mb","\u003cbr\>Quinto: uma direcção escolar focada \nem disciplinas como Matemática ou Português levou a que o tempo lectivo \ndestinado ao Estudo Acompanhado fosse dedicado só a essas disciplinas. E quando \nacabam as aulas do 9.º ano os docentes estão disponíveis para dar aulas extra de \npreparação para os exames de Português e Matemática e ainda todas as que \nsentirem necessárias para o esclarecimento de dúvidas dos seus alunos. \n\u003cbr\>\u003cbr\>Tudo o que atrás fica escrito permite que os bons resultados daquela \nescola se prolonguem no ensino secundário, tendo o ano passado ficado em 32º \nlugar nos rankings feitos a partir dos resultados a Matemática dos seus alunos \nno 12º ano. Uma boa posição, se nos lembrarmos que falamos de uma escola que não \nfoi feita para alunos de elite. \u003cbr\>Contudo, para o quadro ser completo, é \nnecessário sublinhar outra: esta é uma escola privada. O seu nome completo é \nExternato João Alberto Faria. Mas os seus alunos não pagam para a frequentarem, \npois, como é a única do concelho, tem um contrato de associação com o \nministério. Estes contratos de associação são relativamente raros no país, \nhavendo mesmo assim quem defenda que o Estado devia construir escolas públicas \nao lado de estabelecimentos privados como este. Mesmo que tal saísse muito mais \ncaro. E resultasse numa menor qualidade de ensino. Só que a Alberto Faria mostra \ncomo fazer o contrário pode resultar muito melhor. \u003cbr\>\u003cbr\>Conclusões? Que se as \nescolas escolhessem os professores, se os alunos escolhessem as escolas, se o \nEstado se limitasse a dar orientações gerais, em vez de dirigir, e desse um \ncheque-ensino aos alunos menos abonados que quisessem ir para uma escola mais \nexigente, ou melhor, privada e paga, ganharia a qualidade de ensino e o ministro \ndas Finanças agradeceria. Só os interesses instalados se revoltariam. \u003cbr\>José \nManuel Fernandes\u003cbr\>\u003cbr\> \u003c/div\>\n\u003cp\>\u003c/p\>\n\u003cp\>\u003c/p\>\n\u003cp\>\u003c/p\>\n\u003cp\>\u003c/p\>\u003c/p\>\u003c/p\>\u003c/div\>Aproximam-se eleições, em algumas escolas, para os diversos órgãos \nde direcção. Por isso, era importante que as nossas \nescolas escolhessem uma liderança forte; uma liderança sem equívocos nem \nrodeios; uma liderança a que todos os intervenientes recorressem, sempre \nque necessário, no sentido de conseguir resolver tão diversas e difíceis \nsituações que se deparam no dia-a-dia de quem trabalha nesses espaços. Essa \nliderança não pode ser apenas um lugar ocupado por quem, por exemplo, só por ter \num diploma de administração escolar, já se sinta capaz de assumir essa \nresponsabilidade elevada. A escola é um espaço onde os diversos participantes \ntêm de sentir orgulho em estar e cooperar entre si; para que isso aconteça, a \nliderança desse sítio não pode ser qualquer - tem de ser rigorosa, exigente e \nempreendedora; tem de ter ideias fortes alicerçadas numa visão contemporânea e \ncom perspectivas de construção de um futuro melhor. ",1] ); //--></script><br />Quinto: uma direcção escolar focada em disciplinas como Matemática ou Português levou a que o tempo lectivo destinado ao Estudo Acompanhado fosse dedicado só a essas disciplinas.<br /><br />E quando acabam as aulas do 9.º ano os docentes estão disponíveis para dar aulas extra de preparação para os exames de Português e Matemática e ainda todas as que sentirem necessárias para o esclarecimento de dúvidas dos seus alunos. <br /><br />Tudo o que atrás fica escrito permite que os bons resultados daquela escola se prolonguem no ensino secundário, tendo o ano passado ficado em 32º lugar nos rankings feitos a partir dos resultados a Matemática dos seus alunos no 12º ano. Uma boa posição, se nos lembrarmos que falamos de uma escola que não foi feita para alunos de elite.<br /><br />Contudo, para o quadro ser completo, é necessário sublinhar outra: esta é uma escola privada. O seu nome completo é Externato João Alberto Faria. Mas os seus alunos não pagam para a frequentarem, pois, como é a única do concelho, tem um contrato de associação com o ministério.<br /><br />Estes contratos de associação são relativamente raros no país, havendo mesmo assim quem defenda que o Estado devia construir escolas públicas ao lado de estabelecimentos privados como este. Mesmo que tal saísse muito mais caro. E resultasse numa menor qualidade de ensino. Só que a Alberto Faria mostra como fazer o contrário pode resultar muito melhor.<br /><br />Conclusões? Que se as escolas escolhessem os professores, se os alunos escolhessem as escolas, se o Estado se limitasse a dar orientações gerais, em vez de dirigir, e desse um cheque-ensino aos alunos menos abonados que quisessem ir para uma escola mais exigente, ou melhor, privada e paga, ganharia a qualidade de ensino e o ministro das Finanças agradeceria. Só os interesses instalados se revoltariam.<br /><br />José Manuel FernandesJNShttp://www.blogger.com/profile/08797195078480904290noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2346954805050907085.post-63171887468207438382007-05-16T05:26:00.000-07:002007-05-16T05:27:21.553-07:00Sócrates professor independente<span class="manchete" style="font-size: 18px;"> <strong><span style="font-weight: normal;">Do Público de hoje:</span><br /><br />José Sócrates foi professor da Universidade Independente, apesar de a lei o proibir <a target="_blank" href="http://10.38.1.194/admin/editaNoticiaHTM.asp?idNot=1294117&id=10"> <img alt="" src="http://ultimahora.publico.clix.pt/includes/img/vazio.gif" class="seta" border="0" height="15" width="15" /></a><br /> </strong> </span> 16.05.2007 - 09h11 José António Cerejo, PÚBLICO<br /><p>O ex-secretário de Estado do Ambiente José Sócrates foi "professor convidado" da Universidade Independente em 1996-1997, logo após a conclusão da sua licenciatura naquele estabelecimento.</p><p>A lei então em vigor proibia os membros do Governo de exercer quaisquer outras "funções profissionais, remuneradas ou não". A contratação de Sócrates, conforme consta da lista dos professores da UnI publicada no Diário da República pelo Ministério da Educação, foi feita mediante um "acordo de colaboração".<br /><br />Na entrevista em que, no mês passado, tentou esclarecer o seu percurso académico, o primeiro-ministro quis antecipar novas polémicas, referindo-se, por iniciativa própria, à sua colaboração com a UnI.<br /><br />Segundo explicou, o reitor convidou-o "para dar aulas" logo após a sua licenciatura. "E eu estava tentado a aceitar. Achava honroso o convite. Depois descobri que não podia dar aulas porque estava impedido por lei", contou, adiantando que havia uma "expressa incompatibilidade de funções entre membros do Governo e qualquer actividade regular de dar aulas".<br /><br />Desconsolado com facto de não poder aceitar, o recém-licenciado encontrou a solução que revelou na entrevista: "O que acabei por fazer foi dar uma série de seminários a alunos da cadeira de Ambiente, alunos [que] salvo erro eram do curso de Engenharia Florestal, como forma de ser gentil e atencioso com a UnI."<br /><br />A alternativa simpática descoberta por Sócrates pecava, porém, por um problema: era igualmente incompatível com as suas funções governamentais. Isto porque a lei não permite qualquer distinção entre a "actividade regular de dar aulas" e "dar uma série de seminários".<br /><br />Expressamente, o que a Lei n.º 64/ 93, com as alterações de 1994, 1995 e 1996, dizia era tão simples quanto isto: "A titularidade dos cargos a que se refere o número anterior [incluindo os de membro do Governo] é incompatível com quaisquer outras funções profissionais, remuneradas ou não."<br /><br />E as excepções abertas pela mesma lei para "as actividades de docência no ensino superior" não remuneradas, bem como as que constavam de um outro diploma de 1996 para "a realização de conferências e palestras" remuneradas, aplicavam-se apenas aos "titulares de altos cargos públicos" descritos nessas leis, não se aplicando aos membros do Governo.<br /><br />A esta questão da violação da lei das incompatibilidades acresce o facto de, a fazer fé no Departamento do Ensino Superior do Ministério da Educação, a actividade exercida por Sócrates na UnI ter sido mesmo a de "professor convidado".<br /><br />Publicada por imperativo legal em 17/10/1997, a "listagem do pessoal docente" daquela universidade incluía, em 31/12/1996, o licenciado José Sócrates Sousa, com a categoria de "professor convidado" e sujeito ao regime contratual do "acordo de colaboração".<br /><br />As restantes colunas do mapa não indicam o número de horas semanais de aulas leccionadas e têm em branco o espaço destinado a anotar se o professor tem actividade docente.<br /><br />O PÚBLICO não conseguiu esclarecer, junto da UnI e do gabinete do primeiro-ministro, qual a natureza do "acordo de colaboração" em causa, nem qual a remuneração que lhe correspondia. Colocado perante a lei das incompatibilidades e as contradições existentes entre o que Sócrates disse o que consta do Diário da República, o gabinete do primeiro-ministro reagiu assim: "Nada a responder".</p>JNShttp://www.blogger.com/profile/08797195078480904290noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2346954805050907085.post-84215209315654269122007-05-06T03:15:00.000-07:002007-05-06T03:20:36.071-07:00Bernard-Henri Lévy On America<div id="edImpTitulo"><span style="font-size:130%;">A marca BHL<br /><br /></span></div>A sua fama, naturalmente, precede-o. Pelas melhores e pelas piores razões. A sua obra de ensaísta, divulgador e jornalista é vasta, toca temas de grande actualidade numa escrita poderosa. Material de "best-seller". Em contrapartida, o estatuto de "estrela intelectual" irrita. Compôs uma figura - são famosas as suas camisas brancas de colarinho aberto. Cultiva um estilo que convém aos tempos hipermediatizados em que vivemos. Criou uma marca: Bernard-Henri Lévy já é apenas BHL. Um caso que talvez só seja possível num país onde os intelectuais têm um lugar à parte.<br /><br />BHL escreve nos jornais, é omnipresente nas televisões, desloca-se pelo mundo, interpela os poderes em nome das suas causas, aliás, todas louváveis. A sua profissão: militante dos direitos humanos e combatente dos totalitarismos. Mais do que filósofo, embora tenha estudado filosofia na prestigiada École Normal Supérieur, discípulo de Althusser e de Derrida. O seu nome está ligado ao movimento dos Novos Filósofos, nascido em França em 1976. Ele e os seus amigos, como André Glucksmann, vinham da extrema-esquerda e denunciavam o compromisso da esquerda francesa com o Gulag soviético.<br /><br />Os media adoram-no e percebe-se porquê: cada resposta sugere um título, mesmo que às vezes nos deixe em suspenso, à espera de mais. Os académicos acusando-o de superficialidade. Com<br />algum desdém, alguns jornalistas dizem que os seus livros de reportagem são "romanquêtes". Por exemplo, aquele que escreveu em 2003 sobre Daniel Pearl, repórter do "Wall Street Journal", raptado e decapitado no Paquistão por um ramo da Al Qaeda ("Qui a tué Daniel Pearl"). A verdade é que o seu método é eficaz: vai lá sempre, aos locais onde se encontra a barbárie, seja a destruição de Sarajevo ou a limpeza étnica no Kosovo.<br /><br />A sua última grande aventura foi em Darfur. Entusiasma-se quando discutimos a questão já com o gravador desligado. Conta como entrou clandestinamente, ignorando as autoridades de Cartum, o único jornalista ocidental a fazê-lo nos últimos tempos. É esta hoje a sua grande batalha contra a indiferença. Nisso, é absolutamente consequente.<br /><br />Politicamente, declara-se de esquerda, embora de uma esquerda rara em França. Gosta da América como se verá nesta entrevista, é pró-israelita e mais ou menos liberal. Três pecados imperdoáveis. Vota Ségolène. TdeS<br /><br /><div id="edImpTitulo"><span style="font-size:130%;">Temos a cabeça cheia de clichés sobre a América e são todos falsos</span></div><div id="edImpTexto" style="font-family: georgia; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; font-size: 10px; line-height: normal; font-size-adjust: none; font-stretch: normal; color: rgb(153, 153, 153);">Teresa de Sousa<br /></div>Fomos encontrá-lo num hotel de luxo, em Lisboa, onde passou três dias disponível para a imprensa portuguesa. A editora Asa acaba de publicar o seu livro mais recente, "American Vertigo", resultado de um longo périplo pelos Estados Unidos a convite da revista "Atlantic Monthly" para seguir as pisadas de Alexis de Tocqueville, o grande sociólogo francês que escreveu, no século XIX, a obra mais emblemática sobre a América - "De la Democratie en Amérique".<br /><br />A viagem de Bernard-Henri Lévy, aliás, BHL, 173 anos depois do seu compatriota, foi realizada em 2004, em plena campanha para a reeleição de Bush. Por estrada, quase sempre. Este-Oeste, Norte-Sul, ao estilo de Kerouac, sem paragens certas nem horários a cumprir. "Foi a estrada que fez este livro (...), e que inspirou esta obra incompleta de um possível retrato da América".<br />"American Vertigo" foi publicado primeiro nos EUA, no início de 2006, e mereceu mais críticas do que elogios. A nossa conversa começa por lá e termina, obrigatoriamente, do lado de cá - em França.<br /><br />Depois da sua longa viagem pela América, mudou as ideias que tinha?<br /><br />Mudei. Fiz o que muito pouca gente faz: atravessar o país em todos os sentidos por estrada, olhar para tudo, para tentar testar os clichés contra a prova do real. Todos nós temos a cabeça cheia de clichés quando se trata da América. Os anti-americanos têm clichés, os pró-americanos também. Todos os clichés são falsos.<br /><br />Uma experiência como esta transforma-se numa máquina de quebrar clichés. As minhas ideias mudaram.<br /><br />Por exemplo?<br /><br />Pensava que a América era um país imperial. A ideia merece ser revista. Pensava que a América não tinha sistema de saúde e de segurança social. É mais complicado que isso. É diferente do nosso, uma mistura de publico e privado, mas existe. Pensava que a América era um país materialista e é provavelmente o país mais religioso do mundo. Pensava que o Sul eram os Estados da segregação, onde os negros teriam ainda um longo caminho a percorrer para cumprir o programa de Martin Luther King. Descobri que o caminho já tinha sido percorrido no essencial. Cada passo foi uma surpresa.<br /><br />Esta surpresa confirmou a ideia de que europeus e americanos continuam a pertencer ao mesmo planeta ou viu uma América que diverge cada vez mais de nós?<br /><br />O que vi e o que discuti com inúmeros intelectuais, de direita e de esquerda, conservadores e democratas, é que há, de facto, uma tentação de largar as amarras da Europa. Mas direi que a questão que acabou de colocar é aquela que se colocam a eles próprios todos os americanos. A questão central é essa...<br /><br />A relação com a Europa?<br /><br />O que é que fazemos com a Europa? A Europa é a nossa mãe, mas como é que traduzimos isso nos dias hoje? Como é que resolvemos o nosso complexo de Édipo ou de Electra? Matamos ou não a mãe? É a questão metafísica e, consequentemente, política.<br /><br />Por que é que se coloca agora? Porque a guerra-fria terminou? Porque o mundo está a mudar?<br /><br />Porque a guerra-fria acabou. Porque há uma mudança da população americana com a chegada dos hispânicos. E pela proximidade à Ásia através da costa do Pacífico. E também por causa da psicologia dos homens. O complexo de Édipo existe nos humanos como nas colectividades. Nós, na Europa, temos o complexo ao contrário: o ódio da mãe pela filha. Que é o anti-americanismo. Mas, se tivesse de fazer uma aposta, apesar de tudo diria que não haverá ruptura entre a América e a Europa. A presença europeia é demasiado forte, os valores europeus impregnam a sociedade americana de forma profunda e creio que, sem isso, a América seria outra coisa.<br /><br />Há passagens no seu livro dedicadas a descrever o Presidente americano. Pelo menos inicialmente os europeus não compreendiam essa escolha...<br /><br />Olhe para o seu país. Uma civilização, um império, uma cultura e ofereceu-se a si próprio durante décadas dois cretinos: Salazar e Caetano. Isso não quer dizer nada. Na França é o mesmo. O que eu creio, realmente, é que George W. Bush é um parêntesis. Temos os olhos fixos em Bush, ficamos completamente obnubilados por ele, como se ele fosse a verdade da América. Ora, não é nada disso.<br /><br />Mas é essa a América que temos visto, dos "neocons", do fundamentalismo religioso...<br /><br />Isso quer dizer que não compreendemos nada.<br /><br />Encontrou Barak Obama em 2004 e diz no seu livro que é preciso prestar-lhe atenção. Hoje todos nós lhe prestamos imensa atenção.<br /><br />Creio ter sido um dos primeiros europeus a imprimir o nome de Barak Obama e a fazer o seu retrato. Logo que o vi, senti imediatamente que era uma personagem considerável e uma das faces possíveis da América.<br /><br />Diz que Obama é um negro branco.<br /><br />O que digo é que a força de Obama reside no facto de não ser um descendente de um escravo do Sul. O seu pai era queniano. E isso muda tudo. Quer dizer que ele não reenvia aos outros americanos uma imagem culpabilizante. Não lhes reenvia a imagem do país da segregação, do Ku-Klux-Klan, do esclavagismo. É um negro que joga na sedução e não na culpabilização. A sua força está aí.<br /><br />Escreve também bastante sobre a sua experiência com as comunidades árabes, sobre o facto de se sentirem americanos, ao contrário do que acontece na Europa.<br /><br />Os americanos inventaram um sistema de cidadania, um modo de regulação dialéctica entre o particular e o universal, entre a origem e o destino, que funciona bastante bem. Na Europa e na França teríamos todo o interesse em inspirarmo-nos nisto.<br /><br />Podemos voltar aos valores? Há hoje na Europa a ideia de que, depois de Guantánamo e de Abu Ghraib, a democracia americana não funciona. Visitou Guantánamo. Contesta essa ideia no seu livro.<br /><br />Fui ver Guantánamo. É verdade que é inadmissível, que é um escândalo, que é uma zona de não-direito e que é indigna de uma democracia. Mas não é o Gulag. E os que nos vêm dizer que Guantánamo é o Gulag americano são cretinos, não têm a mínima ideia do que é o Gulag. O Gulag significa dezenas de milhões de mortos. Guantánamo significa centenas de prisioneiros sem direitos que não são bem tratados, sem dúvida, em alguns casos torturados. Eis um caso em que está diante de um verdadeiro cliché.<br /><br />Compara a denúncia de Abu Ghraib com a denúncia do que se passou com a França na guerra da Argélia. Diz que eles foram mais rápidos a denunciar e a condenar.<br /><br />A grande diferença entre a França e a América é que a França levou 40 anos para aceitar o seu Abu Grahib e a América levou três dias.<br /><br />Porquê?<br /><br />Porque a América é uma democracia mais viva que a França. Bastaram 48 horas para a América ser informada sobre Abu Ghraib, ficar horrorizada com Abu Ghraib e condenar Abu Ghraib. Há pouco falávamos de Obama e de Hillary Clinton. A América pode eleger no próximo ano uma mulher ou um negro. Portugal estaria preparado para isso?<br /><br />Mas a França está, pelo menos no que diz respeito a uma mulher.<br /><br />Mas está pronta a eleger um negro? E mesmo uma mulher? Vamos ver. Espero que sim. Mas olhe para a maneira como ela é tratada, a nossa mulher, Ségolène. Os insultos as insinuações.<br /><br />Conversou longamente com algumas das figuras mais conhecidas entre os neoconservadores. As suas origens são as mesmas que as deles: vieram da esquerda, são anti-totalitários, vêm a democracia como valor universal. Também costuma apelar às democracias para agirem contra os tiranos. Qual é a diferença?<br /><br />A diferença é que continuo a ser de esquerda e eles não. No plano moral, não há diferença. O problema deles não é serem imorais. Moralmente tinham razão. Claro que é preciso derrubar um ditador. Claro que a democracia é boa para todos os povos. Claro que os Direitos do Homem não são reservados aos ocidentais. Apenas há diferença no plano político. A responsabilidade de um Estado não é apenas ter razão nos princípios mas também ganhar no plano político. A guerra no Iraque, a maneira como foi conduzida, fez com que estivesse antecipadamente perdida. Para ganhar é preciso um consenso internacional, aliados no terreno e um plano de reconstrução. Foram as três coisas que faltaram à América.<br />Eles fizeram no Iraque os mesmos erros que fazem na América. Pensam que o Estado serve de pouco para combater a miséria, para os cuidados de saúde, que é preciso deixar o mercado livre funcionar. Fizeram o mesmo erro no Iraque: bastava derrubar Saddam e, depois, a Providência democrática faria o resto.<br /><br />Diz no seu livro, já disse aqui, que a América não é uma nação imperial. Mas, depois da guerra-fria, começou a pensar-se como império.<br /><br />Não tenho a certeza disso. A questão imperial é uma questão nossa, dos europeus. Fomos nós as nações imperais. O imperialismo é o nosso fardo. A América não tem um imaginário imperial, isso é falso. A verdadeira tentação da América, a sua tendência pesada e, talvez, o maior perigo é deixar cair o mundo... O isolacionismo.<br />Espero que a queda dos neoconservadores não tenha como efeito deitar fora o bebé com a água do banho. Abandonar toda a espécie de preocupação com o mundo.<br /><br />Como é que explica que a ideia de uma Europa como anti-América seja sobretudo uma ideia francesa?<br /><br />Não, não é apenas francesa. É verdadeira na Alemanha, na Espanha, na Itália, talvez em Portugal... Mas é verdade que nasceu em França. O anti-americanismo era uma ideia de extrema-direita...<br /><br />Agora é de esquerda.<br /><br />Se o anti-americanismo se transformar no programa da esquerda, isso será muito grave porque, na sua substância, é uma ideia fascista. É o reflexo dos fascistas franceses dos anos 20 e 30 face a uma nação democrática. É a reacção dos nostálgicos da nação orgânica, a nação baseada numa raça, num sangue, etc..., face à nação rousseauniana, que é a América. A América é uma incarnação do sonho de Rousseau, gente que vem de toda a parte e que, por um acto de vontade, decide fazer uma nação. Isto, os contra-revolucionários franceses do século XIX e, depois, os fascistas dos anos 20, viam como o seu o pior pesadelo. É daqui que nasce o anti-americanismo em França. Que, depois, passa para a Alemanha, como os românticos alemães, com os ideólogos nazis, com Heidegger. Ver uma parte da esquerda europeia ligada a este anti-americanismo de origem fascizante é algo que me aterroriza.<br /><br />E isso é um problema para a integração europeia?<br /><br />Sim. Creio que não se pode detestar a América e querer, ao mesmo tempo, a Europa. Porque, no fundo, a ideia de que a Europa é possível é a América que no-la dá. É já, de alguma maneira, uma Europa - povos diferentes, de tradições e memórias que não têm nada umas com as outras, que formam uma nação. É isto a América e é isto que tentamos fazer na Europa.<br /><br />O que leva 70 por cento dos franceses a dizer que a França está em declínio? Ou, como se diz, como se explica este "malaise" de um país que é rico e, a muitos títulos, magnífico?<br /><br />Isso vai mudar... O "malaise" é uma questão de memória. Há três acontecimentos recentes na nossa memória com os quais temos dificuldade em lidar. Vichy, a colonização e o Maio de 68...<br /><br />Acha que podemos comparar o Maio de 68 com Vichy...<br /><br />Não. Mas há uma relação difícil com o Maio de 68. Há uma parte da França que continua a pensar que foi uma coisa muito má, que os nossos males vêm daí.<br /><br />Diz no seu livro, contrariando a percepção comum na Europa, que o terrorismo islâmico é uma forma de fascismo - o islamofascismo. É a mesma definição de Bush.<br /><br />As pessoas na Europa crêem que a origem do terrorismo islâmico é a pobreza ou o Corão. Não é uma coisa nem outra. A sua tradição ideológica chama-se fascismo. É a sua verdadeira natureza. É uma questão política, não é uma questão religiosa.<br /><br />Os americanos percebem isso melhor que nós?<br /><br />Não, não creio. Eles estão mais na linha da guerra de civilizações, ou seja, uma guerra de religiões. Ora, não é nada disso, é uma batalha política contra gente que é fascista...<br /><br />Porque defendem uma ideologia totalitária?<br /><br />Li os fundadores dos Irmãos Muçulmanos, li os inspiradores de Komeini, li os fundadores do Partido Baas e verifiquei que as ideias que os alimentam são ideias europeias e, em grande parte, fascistas. Há também o Corão naturalmente. Mas o Corão é como todos os textos religiosos, permite várias interpretações. Se fosse só isso não estaria tão inquieto.JNShttp://www.blogger.com/profile/08797195078480904290noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2346954805050907085.post-63841186448733414452007-04-21T09:20:00.000-07:002007-04-21T09:22:49.368-07:00Um mau caminho para a liberdade<div id="txtTitle" style="font-family: Georgia,Times New Roman,Times,serif; font-size: 21px; font-weight: bold; color: rgb(0, 0, 0); text-decoration: none;">Um mau c<a href="http://jornal.publico.clix.pt/main.asp?dt=20070421&id=11207511"><img style="cursor: default;" src="http://jornal.publico.clix.pt/img/pxTRANS.gif" border="0" height="10" width="10" /></a>aminho para a liberdade</div>21.04.2007, José Pacheco Pereira<br /><br /><div id="txtLead" style="line-height: 20px; font-family: Georgia,Times New Roman,Times,serif; font-size: 14px; font-weight: bold; color: rgb(0, 0, 0); text-decoration: none;">Qualquer criminalização do pensar e do dizer é liberticida<br /><br /></div>V ai chegar a Portugal, pela via paternal da UE, a criminalização da negação do Holocausto. Negar a existência do Holocausto vai dar pena de prisão, embora se admita que diferentes interpretações nacionais possam coexistir em função da tradição legal de cada país. Tal significa - uma típica demonstração da forma como funciona a UE - que a legislação aprovada pelos 27 tanto pode ser aplicada como não.<br /><br />Em Inglaterra não o será, em França já o é. O problema para nós é que, conhecendo a apetência do PS (e com ecos no PSD) pelo "politicamente correcto" e a necessidade do Governo em encontrar distracções grátis e inócuas para si, há todas as probabilidades de, daqui a uns dias ou uns meses, termos uma cópia portuguesa dessa legislação.<br /><br />A negação do Holocausto é uma aberração histórica e um extremismo político. Com mais ou menos detalhe, com diferentes interpretações sobre o alcance e o significado do que aconteceu, é da dimensão do vudu acreditar que os milhões de judeus que viviam na Alemanha, Polónia, Lituânia, Bielorrússia, Ucrânia, Holanda, Grécia, etc., etc., desapareceram do mapa dos vivos sem se saber porquê. Pensar que grandes "cidades" judaicas como Vilnius, Varsóvia, Cracóvia, Amesterdão, Salónica deixaram de o ser por algum beam me up sideral é estúpido e absurdo, mas as pessoas devem ter o direito de serem estúpidas e absurdas mesmo sobre os cadáveres alheios.<br /><br />Que a destruição sistemática e organizada dos judeus foi preparada pelos nazis é também um facto histórico inegável à luz dos documentos e testemunhos existentes.<br /><br />Autores "revisionistas" como David Irving podem ter razão num ou noutros ponto de interpretação, mas a "história" que produzem não é história. Mas mandá-lo para a cadeia, onde ele aliás já esteve, por pensar mal, ou mesmo pensar de modo obsceno - como é natural que as vítimas do Holocausto pensem, negadas no seu sofrimento - é um atentado à liberdade.<br /><br />Mas há outra razão que revela os contornos "politicamente correctos" da criminalização do negacionismo: a recusa pelos autores da actual legislação em condenar os crimes do comunismo com um estatuto semelhante ao do nazismo. No debate entre os governos da UE, os países bálticos insistiram nessa dupla criminalização, dos crimes de Hitler e de Estaline (e de Lenine, Mao Tsetung, Pol Pot, etc.) A maioria dos países europeus recusou a proposta báltica, vinda de países que conheceram bem o domínio soviético e aceitaram fazer, ao bom modo hipócrita da UE, umas "audiências públicas" sobre os "crimes de Estaline".<br /><br />Ora se há contabilidade trágica dos mortos no século XX, ela é ganha à distância pelos crimes de Estaline e dos diferentes regimes comunistas. Trata-se também de factos históricos irrefutáveis, desde as execuções em massa ao Gulag, desde a deportação de povos inteiros até formas geradas por experiências de engenharia social, da colectivização forçada ao Grande Salto em Frente e à Revolução Cultural. Na URSS, na China, no Camboja, na Hungria, na Roménia, em Angola, na Zâmbia, na Etiópia, etc., etc., milhões de pessoas foram presas, executadas, varridas da face da terra, porque tinham na sua esmagadora maioria "culpas objectivas".<br /><br />Mas isto pode-se negar, como fazem muitos partidos comunistas e muitos intelectuais de esquerda pelo mundo fora, ou pode-se omitir, o que é uma das mais perversas formas de negar.<br />Dito isto, eu não defendo qualquer salomónica condenação do megacinismo, defendo a liberdade de se ter e defender ideias, mesmo que me sejam repulsivas. É ela a essência da liberdade de expressão e repito-o pela milésima vez: é o direito do outro pensar de uma forma que me parece no limite obscena e vergonhosa. Mas é assim a liberdade e qualquer criminalização do pensar e do dizer é liberticida.<br /><br />A obsessão actual de criar sociedades "limpas" da violência, da mentira, da crueldade, do racismo, da xenofobia é um dos aspectos mais liberticidas em curso nas democracias ocidentais e tem vindo a agravar-se nos EUA e na Europa.<br /><br />Do tabaco ao Holocausto, da pornografia ao fast food, dezenas de leis nos protegem do mal. Pode-se dizer que criminalizar a negação do Holocausto não é a mesma coisa que proibir fumar em público.<br /><br />De facto não é, é mais grave. Mas a atitude geral é a mesma absurda, prepotente, liberticida obsessão que nos chega do Estado e dos governos em obrigar-nos a "viver bem" e a "pensar bem", ou a ir para a prisão.JNShttp://www.blogger.com/profile/08797195078480904290noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2346954805050907085.post-69457143641497802422007-04-10T09:34:00.000-07:002007-04-10T09:37:39.857-07:00Perguntas que esperam pelo primeiro-ministro<div style="font-weight: bold; font-size: 21px; color: rgb(0, 0, 0); font-family: Georgia,Times New Roman,Times,serif; text-decoration: none;"><span style="font-family:Arial;font-size:85%;">Do Público:<br /><br />As perguntas mais importantes que esperam uma resp</span><span style="font-family:Arial;font-size:85%;"><a href="http://jornal.publico.clix.pt/main.asp?dt=20070410&id=11150320" target="_blank" onclick="return top.js.OpenExtLink(window,event,this)"><img src="http://mail.google.com/mail/?attid=0.0.1&disp=emb&view=att&th=111dc466b614dce3" border="0" height="10" width="10" /></a></span><span style="font-family:Arial;font-size:85%;">osta do primeiro-ministro</span></div> <p> </p><div style="font-size: 12px; color: rgb(0, 0, 0); font-family: Georgia,Times New Roman,Times,serif; text-decoration: none;"><span style="font-family:Arial;font-size:85%;">10.04.2007 </span></div> <p style="font-size: 12px; color: rgb(0, 0, 0); font-family: Georgia,Times New Roman,Times,serif; text-decoration: none;"> </p> <p style="font-size: 12px; color: rgb(0, 0, 0); font-family: Georgia,Times New Roman,Times,serif; text-decoration: none;"> </p><div style="font-size: 14px; color: rgb(0, 0, 0); line-height: 20px; font-family: Georgia,Times New Roman,Times,serif; text-decoration: none;"><span style="font-family:Arial;font-size:85%;">As duas referências públicas do primeiro-ministro a este caso foram feitas por escrito – ao PÚBLICO e à SIC –, mas nunca responderam a questões concretas. Aqui ficam as questões mais importantes a que José Sócrates deve responder para clarificar o dossier:<script><!-- D(["mb","\u003cbr\>\u003cbr\>1 Por que razão José Sócrates deixou o ISEL para \nacabar o curso na UnI?\u003cbr\>\u003cbr\>2 José Sócrates pediu equivalência a 25 cadeiras \ndas 31 que completavam a licenciatura da UnI. Acabou por receber equivalência a \nmais uma disciplina, ou seja, a UnI deu-lhe equivalência a 26 cadeiras. Por que \nmotivo no ISEL teria de completar mais 12 cadeiras para se licenciar e na UnI \napenas teve que fazer mais cinco? \u003cbr\>\u003cbr\>3 António José Morais, então director \ndo Departamento de Engenharia Civil da UnI, leccionou quatro das cinco cadeiras \nconcluídas na Independente. Segundo o próprio, este grupo de disciplinas, \nalgumas do 3.º ano, outras do 5.º, representava todas as cadeiras leccionadas \npor aquele professor na UnI. António José Morais foi, simultaneamente ao período \nem que lhe deu aulas, adjunto do secretário de Estado da Administração Interna, \nArmando Vara, colega de Governo de Sócrates, e mais tarde director do Gabinete \nde Equipamento e Planeamento do Ministério da Administração Interna.\u003cbr\>3.1 José \nSócrates já conhecia António José Morais antes de este ser seu professor na \nUnI?\u003cbr\>3.2 António José Morais já havia sido seu professor no ISEL?\u003cbr\>3.3 Por \nque razão José Sócrates não identificou António José Morais como tendo sido seu \nprofessor, nas conversas que manteve com o PÚBLICO, ao longo de uma \nsemana?\u003cbr\>3.4 Quantas horas de aulas por semana compunham o horário \ncurricular?\u003cbr\>\u003cbr\>4 Nessas conversas que manteve com o PÚBLICO, antes da \npublicação da primeira peça sobre o caso, Sócrates afirmou-se “insultado” pelas \nperguntas que lhe foram feitas, disse ter frequentado as aulas e concluído os \nexames com aproveitamento, mas nunca forneceu provas sobre o que \nafirmava.\u003cbr\>4.1. José Sócrates não guardou nenhuma prova documental da sua \ncarreira académica? Nunca levantou nenhum dos diplomas?\u003cbr\>4.2 Qual o motivo que \nlevou Sócrates a delegar no reitor da UnI todos os esclarecimentos, documentais \nou testemunhais, sobre o caso, sabendo-se que Luís Arouca já havia estado na \norigem de indicações erradas sobre o seu currículo publicadas no jornal 24 \nHoras, em que terá referido cadeiras que não existiam no seu plano de \ncurso?",1] ); //--></script><br /><br />1 Por que razão José Sócrates deixou o ISEL para acabar o curso na UnI?<br /><br />2 José Sócrates pediu equivalência a 25 cadeiras das 31 que completavam a licenciatura da UnI. Acabou por receber equivalência a mais uma disciplina, ou seja, a UnI deu-lhe equivalência a 26 cadeiras. Por que motivo no ISEL teria de completar mais 12 cadeiras para se licenciar e na UnI apenas teve que fazer mais cinco?<br /><br />3 António José Morais, então director do Departamento de Engenharia Civil da UnI, leccionou quatro das cinco cadeiras concluídas na Independente. Segundo o próprio, este grupo de disciplinas, algumas do 3.º ano, outras do 5.º, representava todas as cadeiras leccionadas por aquele professor na UnI. António José Morais foi, simultaneamente ao período em que lhe deu aulas, adjunto do secretário de Estado da Administração Interna, Armando Vara, colega de Governo de Sócrates, e mais tarde director do Gabinete de Equipamento e Planeamento do Ministério da Administração Interna.<br />3.1 José Sócrates já conhecia António José Morais antes de este ser seu professor na UnI?<br />3.2 António José Morais já havia sido seu professor no ISEL?<br />3.3 Por que razão José Sócrates não identificou António José Morais como tendo sido seu professor, nas conversas que manteve com o PÚBLICO, ao longo de uma semana?<br />3.4 Quantas horas de aulas por semana compunham o horário curricular?<br /><br />4 Nessas conversas que manteve com o PÚBLICO, antes da publicação da primeira peça sobre o caso, Sócrates afirmou-se “insultado” pelas perguntas que lhe foram feitas, disse ter frequentado as aulas e concluído os exames com aproveitamento, mas nunca forneceu provas sobre o que afirmava.<br />4.1. José Sócrates não guardou nenhuma prova documental da sua carreira académica? Nunca levantou nenhum dos diplomas?<br />4.2 Qual o motivo que levou Sócrates a delegar no reitor da UnI todos os esclarecimentos, documentais ou testemunhais, sobre o caso, sabendo-se que Luís Arouca já havia estado na origem de indicações erradas sobre o seu currículo publicadas no jornal 24 Horas, em que terá referido cadeiras que não existiam no seu plano de curso?<script><!-- D(["mb","\u003cbr\>4.3 Por que razão Sócrates se recusou sempre a responder por escrito \nàs perguntas formuladas, também por escrito, pelo PÚBLICO?\u003cbr\>4.4 Como é que, \ndurante quase uma semana, não foi capaz de citar um seu colega ou um dos seus \ndois professores da UnI?\u003cbr\>4.5 Qual o motivo por que não apresentou, por \nexemplo, a sua monografia de Projecto e Dissertação, tese final do \ncurso?\u003cbr\>\u003cbr\>5 Da matrícula de José Sócrates na UnI consta que não apresentou \nqualquer documento de prova das cadeiras já feitas no ISEC e no ISEL e só \napresentou atestado das 12 cadeiras concluídas no ISEL, em Julho de 1996, ou \nseja, quando estava praticamente a concluir o curso na UnI. \u003cbr\>5.1 A que se \ndeveu este atraso?\u003cbr\>5.2 Como pôde a UnI aceitar a inscrição, aprovar um plano \nde equivalências, permitir a frequência de aulas e a realização de exames sem o \ndocumento que atestava as cadeiras finalizadas no ISEL?\u003cbr\>\u003cbr\>6 Quatro notas \ndas cadeiras concluídas na UnI foram lançadas em Agosto e o diploma tem data de \n8 de Setembro de 1996. \u003cbr\>6.1 Sabendo-se ser anormal o lançamento de notas em \nAgosto, bem como a passagem de diplomas ao domingo, que justificação é dada para \nisso?\u003cbr\>\u003cbr\>7 Numa das folhas consultadas pelo PÚBLICO aparece a palavra \n“isento” no topo da página. \u003cbr\>7.1 Sócrates pagou propinas? \u003cbr\>7.2 Que valor \nfoi fixado? \u003cbr\>7.3 A despesa entrou no IRS?\u003cbr\>\u003cbr\>8 O reitor Luís Arouca disse \npor várias vezes que só conheceu Sócrates quando este ingressou na universidade. \nNo entanto, em trocas de correspondência anteriores, Sócrates despedia-se “... \ndo seu, José Sócrates”.\u003cbr\>8.1 Quando é que Luís Arouca e José Sócrates se \nconheceram?\u003cbr\>\u003cbr\>9 A que se referia José Sócrates quando, num fax enviado a \nLuís Arouca que está no seu dossier de licenciatura, escreveu: “Caro Professor, \naqui lhe mando os dois decretos (o de 1995 fundamentalmente) responsáveis pelo \nmeu actual desconsolo.”\u003cbr\>\u003cbr\>10 Por que motivo não foram corrigidos todos os \nerros constantes da biografia publicada no Portal do Governo, mantendo-se a \nreferência errada a uma pós-graduação em Engenharia Sanitária e continuando a \nser omitido o MBA em Gestão já depois de o termo “engenheiro” ter sido \nsubstituído pelo de “licenciado em Engenharia Civil”?",1] ); //--></script><br />4.3 Por que razão Sócrates se recusou sempre a responder por escrito às perguntas formuladas, também por escrito, pelo PÚBLICO?<br />4.4 Como é que, durante quase uma semana, não foi capaz de citar um seu colega ou um dos seus dois professores da UnI?<br />4.5 Qual o motivo por que não apresentou, por exemplo, a sua monografia de Projecto e Dissertação, tese final do curso?<br /><br />5 Da matrícula de José Sócrates na UnI consta que não apresentou qualquer documento de prova das cadeiras já feitas no ISEC e no ISEL e só apresentou atestado das 12 cadeiras concluídas no ISEL, em Julho de 1996, ou seja, quando estava praticamente a concluir o curso na UnI.<br />5.1 A que se deveu este atraso?<br />5.2 Como pôde a UnI aceitar a inscrição, aprovar um plano de equivalências, permitir a frequência de aulas e a realização de exames sem o documento que atestava as cadeiras finalizadas no ISEL?<br /><br />6 Quatro notas das cadeiras concluídas na UnI foram lançadas em Agosto e o diploma tem data de 8 de Setembro de 1996.<br />6.1 Sabendo-se ser anormal o lançamento de notas em Agosto, bem como a passagem de diplomas ao domingo, que justificação é dada para isso?<br /><br />7 Numa das folhas consultadas pelo PÚBLICO aparece a palavra “isento” no topo da página.<br />7.1 Sócrates pagou propinas?<br />7.2 Que valor foi fixado?<br />7.3 A despesa entrou no IRS?<br /><br />8 O reitor Luís Arouca disse por várias vezes que só conheceu Sócrates quando este ingressou na universidade. No entanto, em trocas de correspondência anteriores, Sócrates despedia-se “... do seu, José Sócrates”.<br />8.1 Quando é que Luís Arouca e José Sócrates se conheceram?<br /><br />9 A que se referia José Sócrates quando, num fax enviado a Luís Arouca que está no seu dossier de licenciatura, escreveu: “Caro Professor, aqui lhe mando os dois decretos (o de 1995 fundamentalmente) responsáveis pelo meu actual desconsolo.”<br /><br />10 Por que motivo não foram corrigidos todos os erros constantes da biografia publicada no Portal do Governo, mantendo-se a referência errada a uma pós-graduação em Engenharia Sanitária e continuando a ser omitido o MBA em Gestão já depois de o termo “engenheiro” ter sido substituído pelo de “licenciado em Engenharia Civil”?<script><!-- D(["mb","\u003c/div\>\n\u003cp style\u003d\"font-size:12px;color:#000000;font-family:Georgia, Times New Roman, Times, serif;text-decoration:none\"\>\u003c/p\>\u003c/p\>\u003c/p\>\u003c/p\>\u003c/font\>\u003c/div\>\n\u003cdiv\>\u003cfont face\u003d\"Arial\" size\u003d\"2\"\>\n\u003cdiv style\u003d\"font-size:12px;color:#000000;font-family:Georgia, Times New Roman, Times, serif;text-decoration:none\"\>\u003cbr\>\u003c/div\>\n\u003cdiv style\u003d\"font-weight:bold;font-size:21px;color:#000000;font-family:Georgia,Times New Roman,Times,serif;text-decoration:none\"\>Investigação \ncriminal de violência contra professores e pessoal médico será prioritária\u003ca href\u003d\"http://jornal.publico.clix.pt/main.asp?dt\u003d20070410&id\u003d11148738\" target\u003d\"_blank\" onclick\u003d\"return top.js.OpenExtLink(window,event,this)\"\>\u003cimg height\u003d\"10\" src\u003d\"?attid\u003d0.0.1&disp\u003demb&view\u003datt&th\u003d111dc466b614dce3\" width\u003d\"10\" border\u003d\"0\"\>\u003c/a\>\u003c/div\>\n\u003cp style\u003d\"font-size:12px;color:#000000;font-family:Georgia, Times New Roman, Times, serif;text-decoration:none\"\>\n\u003cdiv style\u003d\"font-size:12px;color:#000000;font-family:Georgia, Times New Roman, Times, serif;text-decoration:none\"\>10.04.2007 \n\n\u003cp\>\u003c/p\>\n\u003cp\>\n\u003cdiv style\u003d\"font-weight:bold;font-size:14px;color:#000000;line-height:20px;font-family:Georgia, Times New Roman, Times, serif;text-decoration:none\"\>Várias \nsugestões do Ministério Público foram aceites pelo ministro da Justiça, no \nâmbito da proposta de lei sobre política criminal\u003c/div\>\n\u003cp\>\u003c/p\>\n\u003cp\>\n\u003cdiv style\u003d\"font-size:14px;color:#000000;line-height:20px;font-family:Georgia, Times New Roman, Times, serif;text-decoration:none\"\>O \nGoverno aceitou tornar prioritária a investigação criminal dos casos de \nviolência contra professores e pessoal médico - como propôs o Ministério Público \n-, revelou ontem o procurador-geral da República (PGR), Pinto Monteiro.\u003cbr\>No \nfinal de uma reunião com o ministro da Justiça, Alberto Costa, para analisar a \nproposta de lei sobre política criminal em Portugal, o PGR referiu que "várias \nalterações" propostas pelo Ministério Público (MP) "foram consagradas" no \ndiploma do Governo.\u003cbr\>"Houve várias alterações consagradas, de acordo com a \nproposta que o MP apresentou e que o ministro da Justiça entendeu por bem \naceitar", afirmou Pinto Monteiro, antevendo que "se vai ter uma boa lei de \npolítica criminal".",1] ); //--></script></span></div> <span style="font-family:Arial;font-size:85%;"> </span><div style="font-size: 12px; color: rgb(0, 0, 0); font-family: Georgia,Times New Roman,Times,serif; text-decoration: none;"><span style="font-family:Arial;font-size:85%;"><br /></span></div>JNShttp://www.blogger.com/profile/08797195078480904290noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2346954805050907085.post-91762985031383428542007-04-09T02:42:00.000-07:002007-04-09T02:45:11.011-07:00Há mais alunos para além de Sócrates<div id="txtTitle" style="font-family: Georgia,Times New Roman,Times,serif; font-size: 21px; font-weight: bold; color: rgb(0, 0, 0); text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">Do Público de 9/4/2k7</span><br /><br />Há mais alunos para além de Sócrates<a href="http://jornal.publico.clix.pt/main.asp?dt=20070409&id=11142933"><img style="cursor: default;" src="http://jornal.publico.clix.pt/img/pxTRANS.gif" border="0" height="10" width="10" /></a></div><div id="txtData" style="font-family: Georgia,Times New Roman,Times,serif; font-size: 12px; color: rgb(0, 0, 0); text-decoration: none;">09.04.2007, Santana Castilho<br /><br /><div id="txtLead" style="line-height: 20px; font-family: Georgia,Times New Roman,Times,serif; font-size: 14px; font-weight: bold; color: rgb(0, 0, 0); text-decoration: none;">A forma como a Universidade Independente documentou o percurso académico de Sócrates é uma bizarra trapalhada</div><div id="txtText" style="line-height: 20px; font-family: Georgia,Times New Roman,Times,serif; font-size: 14px; color: rgb(0, 0, 0); text-decoration: none;"><br />Apesar de serem antigas, na "blogosfera", as referências ao percurso académico de Sócrates e de nem sequer ter sido a peça do PÚBLICO a primeira a aparecer na comunicação social escrita, foi a decisão editorial deste jornal, secundada pelo Expresso, que, definitivamente, deu aos factos repercussão nacional.<br /><br />A forma como a Universidade Independente documentou o percurso académico de Sócrates é uma bizarra trapalhada.<br /><br />Recordemos alguns dos factos publicados pelo PÚBLICO e pelo Expresso: coisas a que chamam documentos não estão assinadas, não têm data nem timbre, nem qualquer carimbo, nem sequer numeração; não existem "livros de termos"; a decisão sobre a equivalência foi tomada sem que o processo estivesse instruído com um único documento oficial relevante; segundo o então reitor, "... as fichas de cada aluno já ninguém sabe delas...", "... nos primeiros anos a nota final é acompanhada com fundamento, depois é deitada fora..." e, quanto ao registo de pagamento de propinas, "... ao fim de cinco anos vai tudo para o maneta..."; o presidente do Conselho Científico diz nunca ter visto Sócrates e diz que o seu processo de equivalências jamais foi submetido a qualquer órgão académico; o diploma de Sócrates foi passado a um domingo; um estudo do oficialíssimo Observatório da Ciência e do Ensino Superior, a que presidiu a actual ministra da Educação, diz não ter havido licenciados pela Universidade Independente no ano e no curso em que Sócrates se diplomou e as explicações oficiais para a contradição são deploráveis, quando confrontadas com as explicitações do próprio documento.<br /><br />Face a tudo isto, a dúvida está instalada e a credibilidade dos diplomas outorgados ao aluno Sócrates e aos milhares que o antecederam e sucederam irremediavelmente manchada. É aqui, na protecção devida aos alunos, que reside o lado mais importante da questão, não sublinhado pelo que tem vindo a público: o falhanço estrondoso, ao longo dos anos, da fiscalização do Estado sobre a actividade privada desta universidade (e das outras?).<br /><br />As disposições legais vigentes exigiam que o Estado conhecesse o nome dos alunos, os planos de estudo e os professores respectivos, ano por ano. A lei vigente obrigou sempre à existência de um Conselho Científico, em cujo estrito âmbito deveriam ter sido tomadas as decisões que estão na base das notícias. Como obrigou sempre a instrumentos óbvios de registo, cuja efectividade e segurança incumbiam também ao Estado, através da sua função fiscalizadora.<br /><br />Hoje, Mariano Gago dirá ao país se fecha ou mantém aberta a Independente. Mas não dirá uma palavra sobre o mais importante, ou seja, por que falhou o Estado na sua função fiscalizadora e que medidas tomará, de imediato, para nos garantir a não-repetição destes factos, noutras instituições.<br /><br />Em 26 de Março escrevi aqui que Mariano Gago parecia observar de longe o velório da Universidade Independente. Hoje vai promover a sua ressurreição ou decretar-lhe o óbito. Por razões que a prudência não me deixa explicitar, antecipo que o veredicto ditará a continuidade, quando só a autópsia poderia ser útil.<br /><br />Ao que parece, hoje, segunda-feira, também Sócrates poderá quebrar o silêncio a que se tem remetido. Se o fizer, embora tarde, para seu bem e em defesa da dignidade do cargo que ocupa, espero que resulte inequívoco que nunca o ora primeiro-ministro recorreu a expedientes ilegítimos para obter títulos académicos nem, por forma alguma, algum departamento do Estado está refém da Universidade Independente. Porque são essas as questões que interessam ao país, para além da que acima ficou enunciada.<br /><br />Finalmente, que este episódio sirva para ajudar o país:<br /><br />1.º Na reflexão, que não está a ser feita, sobre a ânsia de aumentar o protagonismo da iniciativa privada e do mercado na definição das políticas educativas. A saga da Independente deveria levar-nos a ponderar até onde nos pode conduzir a gradual desresponsabilização do Estado e o galopante desmantelamento da escola pública.<br /><br />2.º A sair do provincianismo que o caracteriza. É tempo de deixarmos de indexar o valor das pessoas à nobiliarquia académica e a retirar razão a Almada Negreiros quando dizia que "... a nossa querida terra está cheia de manhosos, de manhosos e de manhosos, e de mais manhosos. E numa terra de manhosos não se pode chegar senão a falsos prestígios. É o que há mais agora por aí em Portugal: os falsos prestígios!"<br />Professor do ensino superior<br /></div><br /><br /> </div><div align="center"><iframe name="googleAna" id="googleAna" src="http://jornal.publico.clix.pt/google.html" frameborder="0" height="1" scrolling="no" width="1"><br /></iframe></div>JNShttp://www.blogger.com/profile/08797195078480904290noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2346954805050907085.post-67541104361514670362007-03-15T02:10:00.000-07:002007-03-15T02:13:10.819-07:00O novo eixo do mal<div id="txtTitle" style="font-family: Georgia,Times New Roman,Times,serif; font-size: 21px; font-weight: bold; color: rgb(0, 0, 0); text-decoration: none;">O novo eixo do mal<a href="http://jornal.publico.clix.pt/main.asp?dt=20070315&id=11007867"><img style="cursor: default;" src="http://jornal.publico.clix.pt/img/pxTRANS.gif" border="0" height="10" width="10" /></a></div>15.03.2007, Esther Mucznik<div id="txtLead" style="line-height: 20px; font-family: Georgia,Times New Roman,Times,serif; font-size: 14px; font-weight: bold; color: rgb(0, 0, 0); text-decoration: none;">O pacifismo a qualquer preço é hoje o principal credo europeu</div>1Israel e o Irão, os EUA e a Coreia do Norte são, por ordem decrescente, os países mais mal vistos do planeta, os que "pior influência exercem", segundo os resultados de uma sondagem a 28 mil pessoas de 27 países, entre os quais Portugal. A sondagem, realizada para a BBC entre Novembro e Janeiro, pedia às pessoas que classificassem a influência de 12 países: Canadá, China, Coreia do Norte, Reino Unido, EUA, França, Índia, Israel, Japão, Rússia, Venezuela.<br /><br />Israel é o "vencedor", com 56 por cento de opiniões negativas e apenas 17 por cento de positivas. Seguem-se o Irão, com 54 por cento, os EUA, com 51 por cento, e a Coreia do Norte, com 48 por cento. Em contrapartida, as opiniões mais positivas vão para o Canadá, o Japão, a União Europeia e a França. Pelo meio, fica a China, com mais respostas positivas do que negativas, a Venezuela, com empate de opiniões, e a Rússia, com uma avaliação ligeiramente mais negativa.<br /><br /> Não deixa de ser significativo que países europeus como a Alemanha, a França e a Grã-Bretanha estejam entre os que pior opinião têm sobre a influência de Israel no mundo, opinião que se estende, embora de forma mais suavizada, também aos EUA.<br />Como interpretar estes resultados? Como interpretar esta visão que julga com os mesmos critérios e coloca praticamente em pé de igualdade regimes ditatoriais e fomentadores do terrorismo, de um lado, e sociedades livres e democráticas, do outro?<br /><br />É evidente que a natureza das perguntas e o momento em que são feitas condicionam parcialmente as respostas. O estudo levado a cabo pela GlobeScan em parceria com a Universidade de Maryland foi iniciado poucos meses depois da guerra do Líbano, com a memória das pessoas ainda cheia das imagens de destruição e violência do Líbano. Mas isto não invalida a principal conclusão desta sondagem: para a grande maioria dos entrevistados não há relação nenhuma entre a paz e a segurança de um lado, a liberdade e a democracia do outro. Em termos de ameaça mundial, os regimes políticos equivalem-se.<br /><br />Na opinião do director do estudo, Steven Kull, "as populações tendem a ver negativamente os países cujo perfil está marcado pelo uso da força (...) e positivamente os que mantêm uma relação pacífica com o mundo". Ninguém duvida, com efeito, que a guerra é o pior dos pesadelos e os povos, particularmente na Europa, têm dela uma memória dolorosa e traumatizada. Mas a questão não está aí. Está, sim, no alvo do dedo acusatório - Israel e EUA -, quando debaixo dos nossos olhos se desenrola a mais bárbara, a mais cobarde e a mais assassina de todas as guerras: a guerra contra os civis.<br /><br />No Iraque, no Afeganistão, na Tchetchénia, no Darfur, no Magrebe, são utilizados os meios mais selvagens e cruéis: atentados em hospitais por terroristas disfarçados de pessoal médico; bombas nas universidades contra estudantes, nas mesquitas contra fiéis, nos lugares santos contra peregrinos; devastação à bomba do coração cultural de Bagdad onde os livros também são um alvo; cadáveres mutilados por torturas hediondas atirados para valas comuns; raptos, decapitações e agora, supremo requinte, aparição do terrorismo químico, à base de cloro - irmãos contra irmãos, árabes contra árabes, muçulmanos contra muçulmanos, não poupando velhos, mulheres e crianças.<br /><br />Quem protesta contra esta guerra? Ninguém. Ela deixa-nos indiferentes, cegos que estamos pela "evidência" de que tudo é culpa de Israel e dos EUA. Impune, a barbárie pode continuar: de todas as formas ela será sempre atribuída a americanos e israelitas. Nem os europeus, nem muito especialmente o mundo árabe e muçulmano têm a coragem de denunciar o que se passa. Preferem enganar e serem enganados, diabolizando Israel e os EUA. O ódio a Israel e à América oculta a barbárie do nosso tempo.<br /><br />Os países árabes moderados temem represálias dos seus grupos integristas e ser acusados de fazer o jogo do grande e do pequeno Satã. E os europeus, o que temem? Os europeus têm medo. Medo da guerra, medo do terrorismo, medo das "suas" comunidades islâmicas. Consideram o Irão uma ameaça, mas receiam mais o confronto do que a própria ameaça. "Enquanto os israelitas subscrevem a máxima "Nunca mais", a dos alemães é "Nunca mais a guerra"", afirma o alemão Stephan Vopel. O pacifismo a qualquer preço é hoje o principal credo europeu.<br /><br />2É por isso que não posso deixar de encarar com cepticismo o repto, apoiado pelo PÚBLICO, que nos propõe o historiador inglês Timothy Garton Ash, ao sugerir a construção de uma "nova narrativa europeia" com base nos valores da liberdade, da paz, do respeito pela lei, da prosperidade, diversidade e solidariedade. Quando vemos que uma ditadura como a de Teerão, em oposição frontal aos valores acima classificados como europeus, é considerada menos perigosa para o mundo do que Israel; quando vemos que países "livres" e "democráticos" como a Rússia, China, a Venezuela e a Coreia do Norte obtêm uma opinião mais favorável do que os EUA, não me resta a menor ilusão da vontade, nem da capacidade europeias de construir "essa nova narrativa". Parece-me, sim, que a Europa continua presa aos fantasmas do passado, projectando uma imagem de si própria que não é capaz de assumir na prática, mirando-se a um espelho deformado que lhe devolve uma imagem do que ela gostaria de ser, mas não é.<br /><br />E, enquanto se mantiver uma equivalência política e moral entre países onde os direitos do homem são por vezes violados - o que obviamente não os desculpa - e aqueles onde essa violação é a sua própria natureza e base de sustentação, não acredito que a Europa seja capaz de combater pelos valores acima descritos. Hoje, a "narrativa" europeia resume-se a três palavras: sossego, segurança e bem-estar. Para si própria, naturalmente...JNShttp://www.blogger.com/profile/08797195078480904290noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2346954805050907085.post-55977411505173683262007-03-15T02:04:00.000-07:002007-03-15T02:08:29.916-07:00Hagiografia da mediocridade<div id="txtTitle" style="font-family: Georgia,Times New Roman,Times,serif; font-size: 21px; font-weight: bold; color: rgb(0, 0, 0); text-decoration: none;">O estilo e a substância<a href="http://jornal.publico.clix.pt/main.asp?dt=20070315&id=11007818"><img style="cursor: default;" src="http://jornal.publico.clix.pt/img/pxTRANS.gif" border="0" height="10" width="10" /></a></div>15.03.2007, Constança Cunha e Sá <div id="txtLead" style="line-height: 20px; font-family: Georgia,Times New Roman,Times,serif; font-size: 14px; font-weight: bold; color: rgb(0, 0, 0); text-decoration: none;">O estilo do primeiro-ministro confirma apenas a sua falta de substância</div>Em Portugal, há uma suave combinação entre o poder e a arrogância que leva invariavelmente ao mito e à hagiografia. Em 1990, quando o cavaquismo decidiu vender uma imagem diferente do chefe, o Expresso deu à luz um trabalho de fundo, sob um título auspicioso: A história do menino Aníbal. Como mandam as regras da propaganda, A história do menino Aníbal oferecia-nos "o retrato de um vencedor" e o percurso de um "predestinado" que "o acaso" empurrara para a política, a bem da modernização do país e da felicidade dos portugueses.<br /><br />A biografia, recheada de pequenos e coloridos episódios, revelava um "novo" Cavaco Silva, surpreendentemente humano (havia dúvidas sobre a matéria!) nos seus pequenos prazeres e nas suas inocentes "tropelias". Para deleite de todos os fiéis, ficou-se a saber que, por trás do rosto esquálido e austero do primeiro-ministro, havia um "Aníbal" traquinas que gostava de pingue-pongue e de matraquilhos e que subira a pulso na vida.<br /><br />Ungido pelo mérito, o rapaz pobre de Boliqueime, que fazia parte dos "costeletas" (por oposição ao grupo privilegiado dos "bifes"), acabara por se transformar num mago da economia, com doutoramento a preceito e provas dadas no desprezível mundo da política. Na altura, quando o regime celebrava a existência de um "novo português" que se distinguia pela "vontade de vencer", o exemplo de Cavaco Silva, educado no esforço e na disciplina, era a confirmação de um sonho que animou esses excepcionais anos de falsa prosperidade.<br /><br />Apesar da sua aridez e da limitação dos seus horizontes, a história do "menino Aníbal" tinha, apesar de tudo, um sentido que ultrapassava a mera glorificação do chefe e do seu grandioso "destino". Entre os sacrifícios da infância e o posterior brilho da academia, a biografia não deixava de encerrar o essencial do cavaquismo. Ou, dito de outra forma, o essencial de uma velha e recorrente tradição nacional que privilegia o esforço e o mérito em detrimento dos "interesses" mesquinhos dos partidos, que defende o primado da competência sobre as subtilezas da ideologia e que, em última análise, se baseia na superioridade da economia face às "intrigas" em que se entretém a política. Neste sentido, o retrato de Cavaco Silva é também o retrato de um país que procurou sempre fugir às suas responsabilidades através dos bons ofícios de um qualquer salvador que o resgatasse do seu proverbial atraso e da sua irremediável pobreza.<br /><br />O que impressiona na biografia do eng. Sócrates, publicada, este fim-de-semana, pelo semanário Sol, é o imenso vazio em que se afundam as inúmeras qualidades atribuídas ao biografado. Em vinte páginas de prosa, ao longo das quais vamos assistindo ao harmonioso desenvolvimento do pequeno Zezito, não há um pormenor que o diferencie, um traço que o caracterize ou uma ideia que o distinga - e muito menos algo que o determine à nascença para o exercício do poder, como assegura o título escolhido pelo semanário para coroar esta hagiografia da mediocridade.<br />Na história do "menino Zezito", não há esforço, nem sacrifício.<br /><br />Também não há proezas académicas. Nem feitos profissionais. O bacharelato no ISEC - que tantas dúvidas tem levantado - é completado, vinte anos depois, quando já se encontrava no Governo do eng. Guterres, com uma obscura licenciatura, na Universidade Independente.<br /><br />Pelo caminho, e dando provas da sua vocação para a política, mergulha, com o amigo Jorge Patrão, "nos meandros socialistas da região". Ou seja, envolve-se nas pequenas guerras do aparelho, onde gasta o melhor dos seus dias e inicia a sua fulgurante carreira.<br /><br />Em 1987, depois de se ter enfiado no sótão do eng. Guterres e numas intrigas de maior alcance, chega finalmente ao Parlamento, onde viceja discretamente durante os anos do cavaquismo. Ao contrário do que a sua "coragem" e "determinação" poderiam indiciar, José Sócrates, esse estadista de última hora, foi sempre um homem do aparelho, um cacique local que cresceu nos jogos partidários e se distinguiu nos golpes de bastidores.<br /><br />Antes de assentar na política, não deixou de fazer umas breves incursões profissionais. Em 80, deu aulas de Matemática no Liceu da Rainha D. Leonor. E, um ano mais tarde, arranjou um "posto" na Câmara Municipal da Covilhã, onde se distinguiu pelo "estilo", fugindo, como diz o jornal, ao "estereótipo do senhor engenheiro" que ele, para todos os efeitos, não era. Mas usava "calças encarnadas" - o que já então revelava uma aversão às regras da burocracia que se veio a corporizar, mais tarde, na apresentação do programa Simplex.<br /><br />É com este extraordinário curriculum que chega, em 95, ao Governo, pela mão do eng. Guterres, de quem foi sempre um solícito boy. Mantém-se firme, ao seu lado, até ao fim, quando o seu tutor político abandona as funções de primeiro-ministro depois de ter deixado, segundo as suas próprias palavras, o país "à beira do pântano". Uns anos mais tarde, surge a consagração mediática, com um frente-a-frente, na RTP, com Pedro Santana Lopes, uma das grandes estrelas desse restrito firmamento. Diz este último que o conhece como ninguém. E acrescenta: "Há duas pessoas na política que perceberam o meu método e, nalguns aspectos, seguem os meus passos: o Carrilho e o Sócrates." Por uma vez, uma pessoa sente-se tentada a dar-lhe razão. O estilo do primeiro-ministro confirma apenas a sua falta de substância.JNShttp://www.blogger.com/profile/08797195078480904290noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2346954805050907085.post-30330068350344156292007-01-31T04:22:00.000-08:002007-01-31T04:27:18.956-08:00Eduquês à soltaNo Público de hoje, por Guilherme Valente:<br /><br />Apesar das correcções e da pressão que, suponho ir verificando, o chefe do Governo tem exercido, a actual ministra não mexeu, nem ao de leve, em nada de essencial, isto é, não contrariou a infecção ideológica e pedagógica, alimentada por uma espécie de União Nacional dos "especialistas", que domina o ministério e sempre conseguiu impor-se ou bloquear os ministros<br /><br />1.O que pensar da medida, agora prevista, de um só professor para todas as disciplinas no segundo ciclo do básico? Não ocorrerá logo a uma mente sensata que isso seria mais um passo na infantilização dos alunos, outra etapa na degradação do ensino, na desqualificação da prestação dos docentes? Não fala a ministra recorrentemente em querer obter resultados? Assim? Que professor, com que formação, dominará o conhecimento nas várias matérias para as poder ensinar com competência e sucesso? A não ser que os docentes tenham que saber apenas pedagogia e o domínio das várias matérias disciplinares não seja importante. De facto, como vários analistas têm referido e já foi mesmo chocantemente assumido por especialistas menos "políticos", para as teorias pedagógicas que dominam o sistema de ensino a transmissão e aquisição de conhecimentos parece ser irrelevante, esse parece não ser um objectivo nuclear da escola. Como pode a senhora ministra falar em obter resultados? E como os verificará?<br />A lógica e a coerência da medida agora prevista só pode ser mais uma manifestação do delírio cretinizador, que continua a comandar o sistema educativo, à revelia, agora, estou certo, do conhecimento e dos propósitos do chefe do Governo. Mais um combate que a opinião pública terá de travar?<br />Manifestando em todas as oportunidades a sua animosidade contra os exames, esta ministra quis, ou deixou que se pretendesse, acabar com o exame de Português, lembram-se? E a opinião pública obrigou-a a recuar. Depois seguiu-se o escândalo incompreensível dos exames de Química. Ontem foi a TLEBS; agora o fim do exame de Filosofia (não me lembro de decisão pedagógica e cívica tão ignorante e insensata como esta, a não ser, mais uma vez, que fosse de propósito); amanhã a alteração aparentemente absurda do regime de docência no básico, que será, de todos os erros, o que é mais imperativo travar.<br />Mas poderemos estar sempre atentos a tudo, tantas são as medidas aberrantes, mas muitas mais discretas, não tendo, por isso, a cobertura dos media que alerta os cidadãos? Poderá tal situação continuar, a opinião pública a ter recorrentemente de se mobilizar para corrigir os erros da ministra? Inaceitável forma de governar: a ministra pensa, ou avaliza e promove medidas catastróficas, a opinião pública reage e o ministério recua. É a opinião pública a governar pela ministra, uma necessidade que, todavia, se pode deduzir, infelizmente, das suas próprias palavras:<br />Não lavou a senhora ministra as mãos da sua responsabilidade na referida "bronca" do exame de Química, dizendo que não tinha que conhecer nem se metia no que era da responsabilidade dos especialistas? Não afirmou, noutra ocasião: "Acho que as questões técnicas da pedagogia não devem vir para a esfera da actividade política"? E deu mesmo um exemplo, de igual brilho: "Seria o mesmo que o ministro da Saúde dizer qual a melhor técnica de diagnóstico para um problema de saúde." Acontece, diga-se de passagem e sem esperança de convencer quem possui ideias tão elaboradas e as sustenta com tal indiferença pela crítica, que o ministro da Saúde não faz, felizmente, outra coisa, isto é, assume a responsabilidade política pela qualidade e a eficácia de todas as acções do seu ministério, escolhendo os especialistas em que se apoia e acompanhando e avaliando o resultado da sua intervenção. De resto, se em cada operação nos hospitais morresse um doente - e é algo idêntico o que desde há muitos anos está a acontecer na nossa escola -, o que faria o ministro Correia de Campos? Diria, como a ministra, que o problema é dos técnicos e, subentende-se o seu recado, que nós cidadãos não teríamos nada com isso?<br />Adivinha-se o desejo da ministra, a mensagem subliminar nas suas palavras, mas arrepia imaginar o que seria se todos pensássemos como ela, imaginar que pudéssemos estar no país em que, parece podermos concluir, a senhora gostaria de viver.<br />E quem são esses especialistas que a senhora ministra segue, de um modo que lembra a atitude do iletrado ignorante que toma como verdade inquestionável o disparate mais absurdo pelo facto de o ter num livro ou ouvido da boca de um especialista qualquer? São precisamente os "especialistas" que conduziram à tragédia educativa que já ninguém nega. Parece não haver outros para a senhora ministra, deuses únicos que segue acrítica e, talvez, temerosamente.<br /><br />2. Foi chocante a TLEBS? Então leia-se o Referencial de Competências, Chave para a Educação e Formação de Adultos, Nível Secundário (o título é logo uma pérola), agora publicado pelo ministério.<br />Um documento que não posso acreditar tenha sido visto pelo primeiro-ministro. Se o tivesse lido não o deixaria publicar. Um longuíssimo discurso - provavelmente ninguém terá pachorra para o ler até ao fim - que não poderá suscitar, enquadrar, orientar, qualquer realização com resultados efectivos. Pelo contrário, é mais uma das inutilidades retóricas do costume que, como a generalidade das toneladas de papéis elaborados no ministério, só servirá para complicar e bloquear o sistema.<br />Seria hilariante se não fosse trágico.<br /><br />3. Apesar das aparências, enganaram muito boa gente, a intervenção da senhora ministra no plano administrativo e laboral, dita corajosa, mas na minha opinião cega e desastrosa, que resultados teve de facto? Uniu os sindicatos como nunca estiveram antes, reaproximou deles a generalidade dos professores, legitimando a acção sindical que, durante todos estes anos, os fez cúmplices (por vezes contra natura da ortodoxia filosófica ou ideológica de que o mais importante deles se reivindica) da tragédia educativa que corrói e inviabiliza o país, levando ao adiamento da sua reconversão - que já se vislumbrava - no sentido de passarem a desempenhar, finalmente, o papel regulador que deve ser o seu, contributo inestimável para a segurança dos profissionais, a mudança do ensino e o progresso do país.<br />Apesar das correcções e da pressão que, suponho ir verificando, o chefe do Governo tem exercido, a actual ministra não mexeu, nem ao de leve, em nada de essencial, isto é, não contrariou a infecção ideológica e pedagógica, alimentada por uma espécie de União Nacional dos "especialistas", que domina o ministério e sempre conseguiu impor-se ou bloquear os ministros.<br />Marçal Grilo, Oliveira Martins e Júlio Pedrosa não varreram o eduquês, mas a sua estatura intelectual e académica, experiência profissional, espírito crítico e sensatez permitiram-lhes travar várias das manifestações mais delirantes da praga. Agora, pelo contrário, parece-me mesmo haver uma identificação da ministra à ideologia e à nomenclatura ou então uma subordinação como nunca se verificou antes. É o que parece transparecer de afirmações suas.<br />Mas julgo vislumbrar a mudança no horizonte. Este actual estádio supremo do eduquês deverá ser também o seu estertor. E julgo ter boas razões para pensar que a mudança vai acontecer com José Sócrates. Não é possível adiar mais e ele percebe onde está a essência do problema e acredito, e apoio, a sua atitude reformadora. Enganou-se com a ministra, mas estará a verificar o engano e irá corrigi-lo. Os próximos resultados vão ser piores e o chefe do Governo sabe que não haverá desenvolvimento nem diminuição das desigualdades sem outra escola, sem um ensino que desafie alunos e professores, que qualifique e forme, que realize as diferentes potencialidades de todos. EditorJNShttp://www.blogger.com/profile/08797195078480904290noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2346954805050907085.post-89017993960516857822007-01-30T10:41:00.000-08:002007-01-30T10:43:46.800-08:00Neta da última "bruxa" presa no Reino Unido em campanha para limpar o nome da avó<div id="edImpTitulo">Do Público de hoje:<br /></div><p style="color: rgb(102, 0, 0); font-style: italic;">"Esteve nove meses na cadeia e foi visitada por Winston Churchill; morreu em 1956.</p><span style="color: rgb(102, 0, 0); font-style: italic;">Helen Duncan nasceu na Escócia em 1827. E nos anos 40 do século passado tornou-se numa médium famosa. Conta-se que entre os seus clientes estavam várias personalidades, entre as quais Winston Churchill. Agora, 50 anos depois da sua morte, uma neta sua dá a cara por uma campanha destinada a limpar o nome de alguém que a justiça condenou com base numa lei do século XVIII: Helen Duncan foi uma das últimas mulheres a serem presas por bruxaria, no Reino Unido. </span><br /><br /><span style="color: rgb(102, 0, 0); font-style: italic;">Chama-se Mary Martin a neta de Helen Duncan. Tem 72 anos e é responsável por uma petição (www.prestoungrange.org/helenduncan) que reclama um perdão póstumo para a avó, que morreu em 1956. "Ela não cometeu nenhum crime", diz, em declarações à Associated Press (AP).</span><br /><br /><span style="color: rgb(102, 0, 0); font-style: italic;">Mary Martin, que vive na Escócia, conta como quando era pequena era gozada pelos colegas de escola. "Diziam: "És a neta de uma bruxa." Mas ela era apenas uma mulher com um dom." Na cidade onde vivia, o caso que envolveu a sua avó caiu que nem uma bomba. Mary nunca se livrou do estigma de ter uma avó "bruxa". </span><br /><br /><span style="color: rgb(102, 0, 0); font-style: italic;">Recentemente, escreveu ao ministro do Interior britânico, John Reid, e pediu-lhe uma audiência. E tem-se desdobrado em entrevistas para publicitar a sua campanha. Várias centenas de pessoas já assinaram a petição, assegura a AP. </span><br /><br /><span style="color: rgb(102, 0, 0); font-style: italic;">A história de Duncan foi recentemente contada numa reportagem do diário britânico The Guardian. Curiosamente, os problemas da famosa médium começaram durante a II Guerra Mundial, por causa de um navio: o HMS Barham.</span><br /><br /><span style="color: rgb(102, 0, 0); font-style: italic;">O barco tinha-se afundado, mas as autoridades britânicas não revelaram de imediato o facto para que a tragédia não desse cabo do moral colectivo. Contudo, Duncan falou do acidente - contou aos pais de um marinheiro que o seu filho teria morrido a bordo do navio que se afundara. Considerou-se então que Duncan e os seus poderes misteriosos estavam a pôr em causa a segurança pública, numa altura em que as autoridades militares preparavam em segredo o Dia D. </span><br /><br /><span style="color: rgb(102, 0, 0); font-style: italic;">Em Janeiro de 1944 a polícia entrou-lhe pela casa. Foi acusada de prática de "magia negra" e presa durante nove meses com base numa lei de 1735 - a primeira acusação do género num século, segundo conta o The Guardian.</span><br /><br /><span style="color: rgb(102, 0, 0); font-style: italic;">Duncan cumpriu pena num presídio no Norte de Londres, onde chegou a ser visitada pelo primeiro-ministro Churchill, que, ainda de acordo com o jornal, considerava a sentença uma "patetice".</span><br /><br /><span style="color: rgb(102, 0, 0); font-style: italic;">De resto, em 1951 Churchill acabaria por revogar essa lei do século XVIII que punha atrás das grades as alegadas "bruxas". Mas Helen Duncan morreu com o peso da acusação que a levou à cadeia."</span>JNShttp://www.blogger.com/profile/08797195078480904290noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2346954805050907085.post-38239013954377867162007-01-17T03:21:00.000-08:002007-01-17T03:23:43.109-08:00Primeiro filosofar<div id="edImpTexto" style="font-family: verdana; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; font-size: 10px; line-height: normal; font-size-adjust: none; font-stretch: normal; color: rgb(153, 153, 153);"><span style="color: rgb(0, 0, 0);font-size:130%;" ><span style="font-size:100%;">No Público de hoje, </span>Eduardo Prado Coelho<br /><br />o fio do horizonte</span><br /></div><br />Éverdade que a tradição cultural portuguesa sempre foi no sentido da história e não da filosofia. E que mesmo no domínio da filosofia foi a marca da filosofia francesa que predominou (Bachelard, como exemplo) e não a filosofia de cariz analítico (Popper). Daí que certos nomes famosos da filosofia contemporânea nunca tenham sido traduzidos (Quine ou Michael Dennett, também por exemplo, mesmo que alguns tenham sido objecto de extensos e bem organizados trabalhos: Sofia Miguéis é um caso).<br /><br />De qualquer modo, a recente ideia do Ministério da Educação de manter o ensino da Filosofia, mas não o tornar obrigatório para o exame final parece-me desastrosa. No Expresso, António Guerreiro escreveu um magnífico texto sobre este tema. As consequências são múltiplas: os departamentos de Filosofia tenderão a fechar por escassez de participantes. E teremos esta aberração de uma Faculdade de Ciências Sociais e Humanas não ter Filosofia!<br /><br />Deveria apoiar-se todo o sentido do secundário nessas duas grandes disciplinas da arte de pensar: a Matemática e a Filosofia. Elas são complementares, por muito que pensemos que são antagónicas. Essa complementaridade é o essencial da filosofia cognitiva dos nossos dias. Depois cada um reforça uma das múltiplas inteligências (Howard Gardner) que possui: uns pensam com números, outros com imagens (cinema e televisão), outros ainda com sons (música e dança). O que é que estamos a verificar com as actuais e infelizes disposições do Ministério da Educação nesta matéria?<br /><br />Vemos que é uma concepção do mundo para a qual a filosofia estabelece uma fronteira de resistência. João Lobo Antunes fala com extrema clareza na importância da neurofilosofia (fê-lo de um modo extremamente veemente no programa Câmara Clara de Paula Moura Pinheiro). Nuno Crato, esse combatente indomável contra o "eduquês, considera importantes as relações entre a ciência, em particular a matemática, e a filosofia.<br /><br /><br />A que é que se resiste? A algo de particularmente nefasto que resulta daquilo a que de um modo sumário se chama "economicismo". Ao ensino superior recomenda-se hoje que sirva o mercado e que se concentre nas disciplinas que apontam nesse sentido. É triste, é mesmo desolador. Vamos ter uma filosofia em Portugal que se restringe a pequenos círculos de amigos que pretendem falar de metafísica: nem sequer é Carnap contra Nietzsche. É Berlusconi que espreita a cena.<br /><br />É claro que todos nós sabemos que a filosofia é uma coisa, que, se em certos aspectos pode ser útil (nas questões de ética, por exemplo, fundamentais para entendermos os mecanismos da corrupção), noutros é decerto totalmente inútil. O domínio da metafísica vai nesse caminho: tudo aquilo que parece resposta é a rampa de lançamento para uma interrogação. Dizia Valéry que a filosofia consiste em pensarmos que aquilo que foi pensado não foi suficientemente pensado.<br /><br />Falar nisto tem uma razão de ser: nós sentimos que estamos hoje num processo de barbarização que parece sem fim. Tanto mais grave entre nós quanto a modernidade nunca chegou a enraizar-se suficientemente. Mas vemos indícios disto em todos os domínios: desde Filipe la Féria no Teatro Rivoli em nome do público que vai vir meses a fio (e, no entanto, sempre que lá fui vi salas com bastante gente) à televisão que aposta em telenovelas, umas melhores outras piores, mas que relega os programas culturais (como, por exemplo, esse apaixonante diálogo entre Agustina Bessa Luís e Maria João Seixas) para os doentes de insónias, às salas de espectáculo - talvez com a excepção das artes visuais.<br /><br />Donde, é preciso resistir. Estará o Ministério da Educação ainda em condições de alterar a sua decisão?JNShttp://www.blogger.com/profile/08797195078480904290noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2346954805050907085.post-47251242695687736442007-01-04T01:36:00.000-08:002007-01-04T01:38:38.314-08:00A execução de Saddam Hussein<div id="edImpTexto" style="font-family: verdana; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; font-size: 10px; line-height: normal; font-size-adjust: none; font-stretch: normal; color: rgb(153, 153, 153);">José Pacheco Pereira hoje no Público:<br /><br /></div>"Antes de se falar da morte de Saddam, o que "fala" nas imagens que vimos na televisão é a morte. No nosso mundo liofilizado europeu, a Ceifeira vê-se pouco. É escondida nos hospitais, disfarçada em quartos obscuros, cuidadosamente retirada da nossa vista. Ali, numa qualquer instalação policial ou militar, com o ar frio do cimento nu, às horas perigosas da madrugada, um homem como nós defronta tudo. Como nós. Ali, naquele momento, não há qualquer distinção. É ele e somos nós. O morto que ainda está vivo, anda, fala. Dead man walking, como se diz nos corredores da morte texanos.<br /><br />Não há diálogo com a Ceifeira, não há palavras que possam ser ditas. Saddam portou-se com dignidade, embora eu não saiba bem o que significa esta frase, ou sequer se tem algum sentido dizê-la. Tivesse ele chorado, implorado, ou exibido um medo evidente e haveria alguma diferença? Havia para nós, o medo dele seria ainda mais o nosso. Assim como foi, alimenta a nossa vaidade, de que possamos também defrontar assim a Ceifeira e por isso ter essa "dignidade", forma última da nossa humanidade, prometeica a seu modo arrogante, diante do executor humano e divino.<br /><br />Os brutos e os cruéis também podem ser dignos face à morte, isto, para quem saiba alguma coisa de história, não é novidade nenhuma. Aquele homem ali no cadafalso não era um homem comum, nem a morte lhe era alheia. Bem pelo contrário, Saddam matou, mesmo com as suas mãos, e deixou atrás de si um rastro de assassinatos, crimes e violências que o colocam entre os grandes criminosos políticos do século XX, numa indiferença brutal.<br /><br />Naquela sala, ele estava no seu ambiente, ele melhor que ninguém percebia todos os papéis, dos carrascos, da vingança tribal e religiosa, da pura habituação à morte violenta, o convívio próximo de muitos iraquianos com a Ceifeira, mais que próximo, íntimo. Se alguma coisa o podia surpreender, era até a relativo carácter asséptico daquela execução, tão encenada, limpa, sossegada. As coisas depois perderam um bocado o pé, com os insultos e os gritos, mas tenho a certeza que foi incomensuravelmente mais pacífica do que os hábitos da casa.<br /><br />Não foi o espectáculo que foi brutal, foi a morte, como é sempre, aqui com a agravante de ter sido decidida por homens e não pelo fluir do destino. Se há adquirido civilizacional numa parte do "Ocidente", é que os nossos governantes máximos, políticos, juízes, polícias, perderam o direito de decidir sobre a vida e a morte dos que os afrontam, quer a eles, quer à sociedade. O fim da pena de morte é um adquirido crucial, frágil como todos, mas para já garantido em grande parte da Europa, embora mais recentemente do que se pensa.<br /><br />Mesmo assim, o assassinato político que acompanhou a nossa história, e que ainda há poucos anos matou Ceausescu e a mulher (esqueceram-se dos Ceausescu os jornalistas que repetiam na sua ignorância que no século XX "nenhum" ditador conheceu o destino de Saddam, pensando certamente que foi esta a "justiça" que faltou a Pinochet, que muitos que choram por Saddam desejavam ver morto), parece uma excepção, não o sendo. Que o digam os presidentes tchetchenos.<br /><br />Mas uma coisa é ser radicalmente contra a pena de morte, como sou, outra é usar, com a "má fé" que Fernando Gil tão bem retratou, essa condenação como mais um argumento contra a invasão americana do Iraque. A discussão da invasão americana e dos sucessos que se lhe seguiram é hoje tão dominada pela irracionalidade e pelo "pensamento único" que nos impede pura e simplesmente de pensar.<br /><br />Aliás, nunca encontrei melhor exemplo do que possa ser o "pensamento único" do que a completa unanimidade agressiva sobre os eventos do Iraque. Bastava sequer ouvir a cena macabra dos últimos momentos de Saddam, para perceber como para os iraquianos presentes, entre os quais o próprio Saddam, o que está em jogo está muito para além do binómio ocupação-resistência e já lá estava muito antes da invasão."<br /><br />Se se quer discutir a sério o papel político da execução de Saddam, então é preciso em primeiro lugar libertarmo-nos de usar a condenação da pena de morte como argumento, porque ele é em si muito irrelevante no Iraque, nem muda nada que não estivesse já mudado e infelizmente para pior. A execução de Saddam foi mais um episódio de uma guerra civil larvar que atravessa o Iraque, e é como tal interpretada pelos iraquianos, que a festejaram do lado xiita e que a condenaram do lado sunita, apenas e só nesse contexto.<br /><br />E é por ter sido mais um episódio da guerra civil que a desaparição física do ditador em nada contribui para a acalmia do país, e muito menos para a democracia. Mostra também como os americanos, em particular, perderam o controlo do processo e têm um dilema crescente: ao passarem o poder para os iraquianos, tem que aceitar uma política interna cada vez mais dominada pelo conflito civil entre xiitas e sunitas, com os curdos a desejarem estar noutro mapa, de preferência com o petróleo a que acham ter direito.<br /><br />Se não se está de "má fé", então tem que se discutir as alternativas para a coligação após a invasão. Os EUA e os seus aliados sabiam que iam defrontar no Iraque o problema de capturar vivos os principais dirigentes do regime baasista. Não era nada que não tivesse vários precedentes recentes, como o da Alemanha e Japão no fim da II Guerra, ou dos dirigentes sérvios na guerra jugoslava.<br /><br />O precedente alemão e japonês foi resolvido com tribunais como o de Nuremberga, que acabaram na condenação à morte de muitos altos dignitários nazis, ao exemplo do que aconteceu em muitos outros países da Europa, onde uma vaga de julgamentos ou de decisões extrajudiciais levaram à execução, muitas vezes sumária, de milhares de colaboradores dos alemães.<br /><br />Se no Iraque fosse seguido o mesmo exemplo, seriam americanos e os outros membros da coligação a julgar Saddam não se sabendo com que base jurídica. Se fosse com base na legislação nacional iraquiana, ou na base da legislação de Nuremberga, Saddam seria quase de certeza condenado também à morte.<br /><br />Havia a alternativa de o julgar num tribunal como o de Haia, para onde foi enviado Milosevic. Mas o consenso que havia para a Jugoslávia não existia para o Iraque e um tribunal com um apoio internacional dúbio seria sempre visto como um tribunal americano disfarçado. Era provável que neste caso, se o julgamento fosse na Europa, Saddam escapasse com vida, mas ficaria preso até ao fim dos seus dias. Não custa imaginar o clamor que, quer a solução tipo Nuremberga, quer a de um tribunal internacional levantariam, para além de poder reforçar a ideia de uma ocupação estrangeira permanente do Iraque.<br /><br />Havia uma outra solução, a de levar Saddam para os EUA, como aconteceu com Noriega, mas também aí não seria difícil imaginar o clamor internacional e o impasse jurídico a que se chegaria, pois também na lei americana os crimes de Saddam implicavam a pena de morte.<br /><br />Apesar de tudo, visto pelo princípio dos "prognósticos só no final do jogo", qualquer destas soluções seria melhor, agora que sabemos o que aconteceu. Mas é preciso entender que os motivos dos americanos, como acontece com algumas das maiores asneiras cometidas no Iraque, resultam de uma mistura de boa vontade ingénua e negligência na análise cuidada dos riscos. Ninguém que quer a democracia pode deixar de admirar a enorme ingenuidade americana, que é o melhor da América, e nalguns caos, o pior.<br /><br />Vistas as coisas hoje percebem-se as intenções dos EUA: usar o julgamento de Saddam como uma catarse nacional para o Iraque, permitir um módico de justiça (e por muitas críticas que se possam fazer ao julgamento, ele esteve a milhas do que é habitual na região) e oferecer aos iraquianos um ponto zero de partida para a sua democracia. Só os americanos podiam alguma vez pensar nisto a sério, mas não há razão para duvidar das suas intenções, de que, bem sei, está o inferno cheio.<br /><br />Havia, aliás, uma maneira não americana, nem ingénua de pensar esta questão. Estaline era especialista nessa maneira, que certamente seria muito mais realista e eficaz: a de que "acabando-se com o homem, acabava-se com o problema", mas não me parece que seja esta a alternativa em que alguns críticos do que se passou estejam a pensar. HistoriadorJNShttp://www.blogger.com/profile/08797195078480904290noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2346954805050907085.post-59476615942768922122007-01-04T01:19:00.000-08:002007-01-04T01:21:58.628-08:00O Ministério pimba da Educação<div id="edImpTexto" style="font-family: verdana; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; font-size: 10px; line-height: normal; font-size-adjust: none; font-stretch: normal; color: rgb(153, 153, 153);"><span style="font-size:130%;"><span style="color: rgb(0, 0, 0);">Hoje, no Público, por Desidério Murcho:<br /><br /></span></span></div>"A propósito do livro Desastre no Ensino da Matemática: Recuperar o Tempo Perdido, organizado por Nuno Crato, Edições Gradiva, 2006<br /><br />s Encontros de Caparide foram uma louvável iniciativa do Ministério da Educação, que pretendia ouvir as sociedades científicas sobre o ensino de algumas disciplinas fundamentais (Português, Matemática, Filosofia) cujas deficiências a nível de currículos são gritantes. Foram tempos áureos, em que um ministro da Educação, David Justino, se preocupava com questões relacionadas com o ensino e não apenas com questões laborais e meramente organizacionais.<br /><br />O cerne da excelência do ensino é a solidez científica dos currículos e a formação científica dos professores, mas as discussões públicas nacionais sobre educação nunca abordam estes aspectos centrais. Até parece que tudo o resto é que é a finalidade do ensino, quando na verdade são apenas meios.<br /><br />Dos Encontros de Caparide resultaram dois livros. O primeiro, dedicado à Filosofia (Para a Renovação do Ensino da Filosofia, Plátano), foi publicado no início deste ano. E este volume, dedicado à Matemática, surgiu agora. No primeiro caso, trata-se de discutir uma proposta concreta que visa melhorar a qualidade científica e didáctica dos programas de Filosofia do ensino secundário. No segundo, trata-se de discutir questões pedagógicas gerais que afectam não apenas a disciplina de Matemática, mas todas as outras.<br /><br />As desastrosas doutrinas pedagógicas que imperam em Portugal, algo pós-modernaças e "construtivistas", são elitistas - apesar de fingirem o contrário - e têm por denominador comum um ódio visceral às Ciências, à Matemática, à História, à Gramática, à Literatura, à Filosofia; enfim, a tudo o que se pareça com verdadeiros conteúdos escolares.<br /><br />Em vez de conteúdos, fala-se de competências - como se pudesse haver competências sem conteúdos. E em vez de se distinguir cuidadosamente o que são verdadeiros conteúdos escolares do resto, procura-se transformar a escola numa espécie de entretenimento com ademanes de educação para a cidadania - tudo, menos ensinar seriamente Matemática ou Geografia ou Filosofia ou História ou Música. A origem destas ideias remonta a Rousseau e à fantasia do bom selvagem, e o que se visa é acabar com as Ciências, as Artes e as Letras, pois tudo isso corrompe a criança, que é presumivelmente mais feliz a ver televisão e a jogar à bola.<br /><br />Claro que tudo isto é fantasioso porque para andar a entreter os meninos com conversa fiada não é preciso escola: as crianças divertem-se muito mais fora da escola, e no mundo de hoje não têm sequer tempo para se aborrecer.<br /><br />Fantasioso é também querer certificar manuais escolares quando os programas das disciplinas, que foram certamente certificados pelo próprio ministério, são o locus classicus do erro científico e do disparate pedagógico. Em muitos casos, para que um manual seja cientificamente bom e pedagogicamente adequado, é obrigado a não respeitar o programa.<br /><br />Isto porque os programas se degradaram de tal maneira ao longo dos anos que, hoje em dia, ao ler um programa curricular de Filosofia ou Português ou outra disciplina, uma pessoa pergunta-se onde está a Filosofia ou o Português. Os pedagogos ministeriais impuseram ao país a original perspectiva de que se pode ensinar Português sem Português, Filosofia sem Filosofia e Matemática sem Matemática.<br /><br />Ao mesmo tempo que os estudantes são massacrados com inúmeras disciplinas vácuas sem qualquer centralidade escolar, não têm uma educação básica em Música, nem em Literatura ou Filosofia ou Geografia. Se um estudante de 15 anos quer saber alguma coisa sobre estas coisas, tem de o fazer fora da escola. Mas se quiser brincar aos índios, pode fazê-lo nas chamadas "actividades educativas", em substituição das aulas de Matemática. É esta a educação pimba que temos.<br /><br />Mas não é esta a educação que a sociedade, no seu todo, quer. Os pais, com maior ou menor formação escolar, queixam-se de que a escola não ensina. Os miúdos cantam, com razão, que "na escola nada se cria, nada se transforma, tudo se perde". Os professores andam há anos a denunciar este estado de coisas.<br /><br />Mas os pedagogos ministeriais vão passando de governo para governo, conseguindo ora mudar a Gramática toda, prejudicando gravemente a possibilidade da excelência do ensino do Português (se antes poucos professores sabiam e ensinavam Gramática, agora ainda menos - ou será que a ideia é mesmo essa?), ora suspender documentos que introduzem conteúdos científicos sérios num programa que carece deles (como foi o caso da badalada suspensão das Orientações de Leccionação do Programa de Filosofia). A ideia de trabalhar pelo bem do país, pela excelência do ensino, em defesa do interesse público, é alheia a estes originais pedagogos.<br /><br />Numa cultura como a portuguesa, na qual nunca se valorizou realmente o conhecimento - afinal, no tempo da outra senhora, o conhecimento era um ornamento social para exibir em conversas amenas enquanto se tomava chá -, compete à escola entusiasmar os jovens e a sociedade, dando-lhes uma percepção clara do valor intrínseco do conhecimento.<br /><br />Mas quando é o próprio ministério da educação que não acredita no valor intrínseco do conhecimento, dificultando cada vez mais o estudo aos muitos professores sérios que temos por esse país fora, afogando-os em trabalho burocrático e em horas contabilizadas nas escolas só para marcar ponto, que se pode esperar do nosso futuro?<br /><br />Como poderemos recuperar o tempo perdido, tanto no que respeita ao ensino da Matemática como no que respeita às outras disciplinas? Seja qual for a estratégia, o primeiro axioma tem de ser este: o conhecimento tem valor intrínseco, em si e por si, e é do maior interesse público protegê-lo e transmiti-lo, e ensinar a produzi-lo - e só a escola pode fazer isso, ainda que infelizmente o tenha de fazer contra o Ministério pimba da Educação.<br />Professor de FilosofiaJNShttp://www.blogger.com/profile/08797195078480904290noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2346954805050907085.post-33344522186719799312006-12-30T06:39:00.000-08:002006-12-30T06:42:32.722-08:00Fúria legislativa<div id="edImpTexto" style="font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; line-height: normal; font-size-adjust: none; font-stretch: normal; color: rgb(153, 153, 153);font-family:verdana;font-size:10px;"><span style="font-size:130%;"><span style="color: rgb(0, 0, 0);">Hoje, no Público, por José Manuel Fernandes<br /><br /></span></span></div><p style="font-style: italic; color: rgb(51, 0, 153);">O Estado quer mandar em tudo, impondo regras disparatadas tanto à poderosa (e odiada) banca, como ao inócuo pescador de fim-de-semana<br /></p><span style="font-style: italic; color: rgb(51, 0, 153);">O mundo era bem mais fácil de compreender se fosse a preto e branco. E Portugal seria muito mais fácil de governar se fosse plano como uma mesa de bilhar e os portugueses medissem todos 1,72 metros e fossem morenos de olhos castanhos. Só que nem a realidade é preto e branco, nem o país é liso e sem rugas, nem somos todos iguais. </span><br /><br /><span style="font-style: italic; color: rgb(51, 0, 153);">Felizmente para cada um de nós e para a humanidade, mas algo que acarreta uma enorme trabalheira. Exige leis e mais leis, pois não há nada como uma boa lei para transformar uma montanha numa planície - ou pelo menos assim pensam muitos governos, o nosso incluído.</span><br /><br /><span style="font-style: italic; color: rgb(51, 0, 153);">A fúria legislativa de tudo uniformizar foi recentemente denunciada, em entrevista ao PÚBLICO e à Renascença, por Joaquim Azevedo, quando lamentou que o Ministério da Educação se tivesse recentemente ocupado da magna questão de regulamentar as dimensões dos cacifos dos alunos nas escolas básicas e secundárias (!!!). Mas a este exemplo kafkiano podemos juntar dois dos últimos dias.</span><br /><br /><span style="font-style: italic; color: rgb(51, 0, 153);">Um fez ontem a primeira página do PÚBLICO: o Governo decidiu impor à banca, em nome da defesa do consumidor, que as comissões para amortização ou liquidação de empréstimos no crédito à habitação fiquem limitadas a 0,5 por cento. A medida é popular, até porque alimenta o mais recente ódio de estimação dos nossos governantes, a poderosa banca, mas ao justificá-la o secretário de Estado da Defesa do Consumidor utilizou o pior dos argumentos: "Queremos que os bancos concorram pelas taxas e não com comissões escondidas." Ou seja, quer que o mundo seja plano e que todos os dilemas tenham apenas uma variável e, para o justificar, utilizou o argumento da alegada falta de transparência.</span><br /><br /><span style="font-style: italic; color: rgb(51, 0, 153);">Na verdade, o Governo não tinha nada que legislar sobre estas taxas, tal como não devia tratar das minudências dos cacifos. Num mercado concorrencial e aberto, como é o mercado bancário, são inúmeras as variáveis que podem influenciar a escolha do consumidor. Uma taxa mais baixa pode ser conseguida alargando o prazo do empréstimo, ou transferindo todas as contas para uma determinada instituição bancária, ou fazendo lá os seguros, ou reforçando as garantias dadas como caução.</span><br /><br /><span style="font-style: italic; color: rgb(51, 0, 153);">Aceitar uma penalização maior por amortização antecipada podia ser uma escolha dos clientes, desde que devidamente informados. Ora em vez de actuar para garantir a transparência da informação e assegurar que as autoridades reguladoras intervêm de forma eficaz, o Governo preferiu diminuir as variáveis para tentar tornar o mundo menos complexo.</span><br /><br /><span style="font-style: italic; color: rgb(51, 0, 153);">Ora como a banca por certo não abdicará das suas margens, o consumidor final pagará noutra factura, pois a única forma de realmente o beneficiar seria garantir que a concorrência aumentava mesmo. Fez-se o contrário, pois é duvidoso que regulamentar tudo, e tornando tudo mais igual, a concorrência aumente.</span><br /><br /><span style="font-style: italic; color: rgb(51, 0, 153);">Mais absurdas são ainda algumas das regras a que terão de se submeter os pescadores de fim-de-semana e que ontem foram tornadas públicas. Só um burocrata que nunca tenha passeado pelos pontões onde se juntam algumas rotundas barrigas com as suas famílias ou alguém que nunca tenha deixado o bolor da sua repartição pública para experimentar descer uma das falésias do nosso litoral para se aproximar dos melhores pesqueiros pode considerar razoável, ou protector das espécies, impor aos pescadores que estes devem guardar dez metros de distância uns dos outros.</span><br /><br /><span style="font-style: italic; color: rgb(51, 0, 153);">E só quem nunca tenha visto como a actividade serve de entretém a muitos reformados de parcos rendimentos pode ter como razoável exigir-lhes as taxas pedidas quando estes pouco mais catarão do que umas sarguetas para fritar e acompanhar com arroz de tomate.</span><br /><br /><span style="font-style: italic; color: rgb(51, 0, 153);">A cultura centralista, regulamentadora e castradora do nosso funcionário público é secular. Alimentada pela filosofia "iluminada" de alguns governantes torna-se num patético pesadelo burocrático.</span>JNShttp://www.blogger.com/profile/08797195078480904290noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2346954805050907085.post-8159696394647792502006-12-30T06:36:00.000-08:002006-12-30T06:44:43.521-08:00O que o mundo precisa de saber de nós<div id="edImpTexto" style="font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; line-height: normal; font-size-adjust: none; font-stretch: normal; color: rgb(153, 153, 153);font-family:verdana;font-size:10px;"><span style="color: rgb(0, 0, 0);font-size:130%;" >Hoje, no Público, por Helena Matos<br /><br /><span style="color: rgb(51, 0, 51); font-style: italic;font-size:100%;" >I</span></span><span style="color: rgb(51, 0, 51); font-style: italic;font-size:100%;" >guais a nascer, iguais a morrer. Novo cemitério da Póvoa de Varzim muda paradigma no culto dos mortos. Câmara impõe minimalismo estético, com jazigos estilizados para acabar com "decorações excessivas", assume o vereador. O novo cemitério municipal vai provocar uma alteração radical à forma como os habitantes da Póvoa de Varzim manifestam o seu culto pelos mortos, uma vez que os jazigos vão deixar de ser decorados de acordo com o gosto dos familiares do falecido.</span><span style="font-size:100%;"><br /></span></div><span style="font-size:100%;"><br /></span><span style="color: rgb(51, 0, 51); font-style: italic;font-size:100%;" >Por imposição da câmara, todos serão cobertos de forma idêntica "estilizada" - uma lápide com a menção ao morto e um jarro para flores - variando apenas a possibilidade, para os enterramentos católicos, de ser colocada uma cruz à cabeceira (...). O vereador com o pelouro das Obras Municipais, Aires Pereira, explicou ao PÚBLICO que o conceito que a autarquia quis que estivesse presente no novo equipamento foi baseado numa frase: "Iguais a nascer, iguais a morrer"."</span><span style="font-size:100%;"><br /><br /></span><span style="color: rgb(51, 0, 51); font-style: italic;font-size:100%;" >Esta notícia constava da edição da passada quinta-feira do Caderno Local do PÚBLICO. Confesso que a li mais do que uma vez e ainda não consegui deixar de me interrogar sobre o que levará um vereador a considerar que tem o direito de decidir quantas jarras, qual o formato das ditas jarras, quantidade de inscrições nas campas... podem ou não os seus munícipes fazer? O que conhecerá do mundo, da História e da Arte este executivo camarário?</span><span style="font-size:100%;"><br /><br /></span><span style="color: rgb(51, 0, 51); font-style: italic;font-size:100%;" >Num dos livros de epigrafia que folheio enquanto escrevo esta crónica são reproduzidos alguns epitáfios. No "minimalismo estético" adoptado na Póvoa de Varzim não há lugar para a decoração excessiva de muitos deles. Por exemplo para aquele em que, sob a forma de livro profusamente decorado com flores, está esmaltada uma fotografia de criança. Ao lado da imagem lê-se: "Anjo adorado Deus te guarde no seu seio como nós te guardamos no nosso coração. Infinitas lágrimas de seus pais e irmã."</span><span style="font-size:100%;"><br /><br /></span><span style="color: rgb(51, 0, 51); font-style: italic;font-size:100%;" >O que levou os pais desta criança a optarem, em 1977, por este excesso decorativo é provavelmente uma forma de viver a morte semelhante à que levou, algures no Sul de Portugal, no tempo do Império Romano, Marcos Comínio Clemente e Vívia Avita a fazerem o seguinte epitáfio em memória da sua filha: "Aqui jaz Comínia Avita, filha de Marcos, de nove anos. Rogo-te traseunte: Diz "que a terra te seja leve"."</span><span style="font-size:100%;"><br /><br /></span><span style="color: rgb(51, 0, 51); font-style: italic;font-size:100%;" >Ignora também o executivo da Póvoa de Varzim que os mortos têm vontade. Por exemplo, não é claro que tipo de imaginária será autorizada aos fiéis não cristãos. Por outro lado, o que fariam agora na Póvoa se lhes aparecesse uma família ou grupo de amigos querendo colocar uma lápide onde se lesse, como se lê no túmulo do republicano Borges Grainha, falecido em 1925, "benemérito, professor, apóstolo infatigável da liberdade de consciência e o mais audaz e denodado inimigo da Companhia de Jesus em Portugal"?</span><span style="font-size:100%;"><br /><br /></span><span style="color: rgb(51, 0, 51); font-style: italic;font-size:100%;" >O túmulo de Borges Grainha está no cemitério do Alto de S. João, em Lisboa, e felizmente aos mortos que repousam neste cemitério foi-lhes permitido expressar as suas paixões, fés e profundas diferenças nas suas campas. Estrelas de cinco pontas, bustos da República, campas onde se cruzam a pedra bruta e a pedra polida, compassos e até a escolha das acácias, em vez dos habituais ciprestes, para algumas das alamedas são símbolos da pertença maçónica de muitos dos mortos que aí foram enterrados e sinais duma diferença que afirmaram em vida e sublinharam na morte.</span><span style="font-size:100%;"><br /><br /></span><span style="color: rgb(51, 0, 51); font-style: italic;font-size:100%;" >As cruzes ou a falta delas, as jarras cheias de flores de plástico, as fotografias esmaltadas, os jazigos monumentais ou as campas rasas, as orações, os silêncios ou os poemas com que se acompanham os mortos são expressões duma diferença e duma individualidade onde é ou devia ser interdito ao poder interferir. Não por acaso os libertos romanos construíam importantes monumentos fúnebres onde se alongavam nos epitáfios.</span><span style="font-size:100%;"><br /><br /></span><span style="color: rgb(51, 0, 51); font-style: italic;font-size:100%;" >Afinal esses jazigos, a inscrição neles do nome da família, dos nomes dos seus sucessores e antepassados, representavam para esses antigos escravos uma forma de afirmação da sua liberdade e cidadania. Eram gente.</span><span style="font-size:100%;"><br /><br /></span><span style="color: rgb(51, 0, 51); font-style: italic;font-size:100%;" >No meio disto há uma questão aparentemente menor mas que não deixa de me inquietar: quem terá dito ao senhor Aires de Oliveira que o gosto dele é melhor do que o daquelas pessoas que, na sua opinião, optam por "decorações excessivas"? É certo que o vereador Aires de Oliveira não está sozinho nesta espécie de totalitarismo estético aplicado à morte.</span><span style="font-size:100%;"><br /><br /></span><span style="color: rgb(51, 0, 51); font-style: italic;font-size:100%;" >De há algum tempo a esta parte instituiu-se que os cemitérios ingleses e norte-americanos são o expoente do bom gosto. Essa preferência pela visão arrelvadamente anglo-saxónica e protestante da morte levou a erros de concepção vários em Portugal. Por exemplo, em Lisboa, no cemitério do Lumiar, os solos obstinaram-se em não se comportar perante o relvoso elemento como os solos da Escócia e os problemas não se fizeram tardar.</span><span style="font-size:100%;"><br /><br /></span><span style="color: rgb(51, 0, 51); font-style: italic;font-size:100%;" >Para o fim deixei a questão da igualdade. Não só executivo algum pode ter o direito de nos impor a igualdade como a igualdade é em si mesma algo de profundamente desumano. Dos pretéritos incas aos contemporâneos norte-coreanos o sonho da igualdade apenas gerou poderes totalitários em que o grupo que controla o acesso aos bens exerce um poder sem limites sobre os restantes cidadãos. Por ironia, não só estas sociedades são profundamente autoritárias como extraordinariamente desiguais. E são tão mais desiguais quanto rígidas.</span><span style="font-size:100%;"><br /><br /></span><span style="color: rgb(51, 0, 51); font-style: italic;font-size:100%;" >O problema não é existirem ricos e pobres. Aliás, jamais se conseguiu que os pobres ficassem menos pobres confiscando os bens dos ricos. Regra geral esse processo apenas gerou mais autoritarismo, mais pobreza e, claro, o nascimento ou reforço das fortunas daqueles que oficialmente presidem e vigiam a igualdade dos outros.</span><span style="font-size:100%;"><br /><br /></span><span style="color: rgb(51, 0, 51); font-style: italic;font-size:100%;" >Contudo, apesar deste lastro de dor, o objectivo da igualdade continua a ser apresentado como algo de desejável, como bem se vê no lema adoptado na Póvoa - "Iguais a nascer, iguais a morrer" - e nas perguntas do Eurobarómetro. O último Eurobarómetro não só concluía que muitos mais europeus apoiam neste momento a Constituição europeia - de Eurobarómetro em Eurobarómetro havemos de acabar a aprová-la por esmagadora maioria! -, como perguntava aos cidadãos se estão dispostos a abdicar de liberdades individuais em troca de mais igualdade e justiça.</span><span style="font-size:100%;"><br /><br /></span><span style="color: rgb(51, 0, 51); font-style: italic;font-size:100%;" >Significativo não é apenas que os portugueses sejam o povo da Europa em que mais pessoas estão dispostas a abdicar da sua liberdade individual em detrimento de mais justiça e igualdade. Significativo é que isso tenha sido perguntado, na Europa no ano da graça de 2006.</span><span style="font-size:100%;"><br /><br /></span><span style="color: rgb(51, 0, 51); font-style: italic;font-size:100%;" >Donde virá esta peregrina ideia de que menos liberdade individual corresponde a mais e melhor justiça? A liberdade é precisamente a condição sine qua non da justiça. Alguém conhece uma ditadura onde a justiça funcione? Quanto à igualdade, a que título é que ela é apresentada como desejável num Eurobarómetro? Sociedades que apostam na diversidade e não temem a mobilidade social são sociedades que geram riqueza e não pensam que ela se obtém através do igualitarismo.</span><span style="font-size:100%;"><br /><br /></span><span style="color: rgb(51, 0, 51); font-style: italic;font-size:100%;" >As outras, as que apostam no igualitarismo, tornam-se rígidas, preconceituosas, asfixiantes. Quer para os vivos quer para os mortos.</span>JNShttp://www.blogger.com/profile/08797195078480904290noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2346954805050907085.post-27455188550301763952006-12-18T03:14:00.000-08:002006-12-18T03:17:58.984-08:00A esquerda moderna e os tempos modernos<div id="edImpTitulo"><br /></div><div id="edImpTexto" style="font-family: verdana; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; font-size: 10px; line-height: normal; font-size-adjust: none; font-stretch: normal; color: rgb(153, 153, 153);"><span style="color: rgb(0, 0, 0);">Santana Castilho</span><br /><br /></div>Antes das eleições que lhe deram a maioria absoluta, Sócrates foi questionado sobre a eventual subida do IVA. Respondeu que não perdia tempo com boatos e lembrou que quem havia subido o IVA havia sido o PSD. Mal chegou ao Governo, subiu o IVA.<br /><br />A bandeira das SCUT foi demasiado agitada por Sócrates para passar de fininho. Em campanha disse branco, no Governo fez preto.<br /><br />A prioridade de Sócrates, em campanha, eram os idosos. A medida de Sócrates, primeiro-ministro, foi pôr 400.000 mil reformados a pagar mais IRS.<br /><br />Sócrates na oposição gritou aos quatro ventos que o investimento na saúde era prioritário para o PS. Sócrates, no Governo, disciplinou a hipocondria dos súbditos com a moderação das taxas e rapou do orçamento 0,4 por cento. Ouve o que eu digo, não ligues ao que eu faço!<br /><br />Sócrates, antes de ser eleito, censurou com denodo o PSD. O PSD tinha feito crescer o desemprego de 4,2 para 6,8 por cento. Sócrates mandou escrever no programa com que se candidatou que o objectivo era recuperar os 150.000 empregos que o PSD tinha perdido. Hoje temos oito por cento de desempregados e as projecções dizem que o número continuará a subir.<br /><br />Sócrates, tribuno, castigou-nos os ouvidos com a ladainha da prioridade das prioridades para a qualificação dos portugueses. Sócrates, único, tesourou a educação básica e secundária com uma redução orçamental de 4,2 por cento e a superior, certamente por ser superior, com 8,2.<br />Sócrates, comentador televisivo, teve e usou liberdade de criação.<br /><br />Sócrates, legislador, propõe que os jornalistas não se possam opor a que nas suas obras sejam introduzidas modificações por parte dos respectivos superiores hierárquicos e que os patrões as possam usar fora dos contextos para que foram produzidas.<br /><br />Sócrates, no oásis das promessas de campanha, fixou como meta outorgar à cultura um por cento do Orçamento do Estado. Sócrates, no deserto economicista do Governo, cortou 7 por cento do respectivo orçamento e transformou o um por cento da meta nos miseráveis e vergonhosos 0,1 por cento do PIB.<br /><br />Não sei se Sócrates, na oposição, teve tempo para assistir a um simples concerto de pífaro. Mas sei que Sócrates, no Governo, assassinou a Festa da Música.<br /><br />Quem é afinal este Sócrates? É, pelo menos, um homem de sorte: foi eleito primeiro-ministro, com maioria absoluta, porque estava no sitio certo quando uns fugiram e outros caíram; conseguiu sem esforço o sonho de Sá Carneiro, numa versão moderna da alegoria de "Dupond et Dupont"; é pai da "esquerda moderna" portuguesa; e acaba de ver o país que governa guindado à invejável 19.ª posição das democracias plenas, extraídas do escrutínio de 167 países.<br /><br />Sinais dos tempos modernos, a que definitivamente não quero pertencer, e da democracia ocidental em que não me revejo.<br /><br />Em nome da sacrossanta economia de mercado, essa tal "esquerda moderna" vai transformando-nos numa sociedade de mercado. Mixórdias de pensamento e processos, desde que encomendadas em outsourcing ou vindas de fora, impõem-se irremediavelmente e são pagas a ouro, que para tal não há crise. A onda chegou ao ensino superior.<br /><br />Dois relatórios de dois estudos encomendados a duas instituições (ENQA e OCDE) poderiam bem ser dispensados. Tudo o que dizem, com utilidade, já se conhecia. Muito do que propõem é disparate e resulta da ignorância que têm sobre um país que avaliam com sobranceria. A ENQA conduziu o processo de forma lamentável e adoptou práticas fortemente incorrectas. A OCDE já cansa.<br /><br />Se muito tem de aceitável, muito tem de questionável. Não esconde que está ao serviço da globalização económica e que as suas recomendações (que são sempre as mesmas) subordinam-se ao que considera serem as exigências da economia de mercado.<br /><br />Recordam-se da chamada directiva Bolkenstein, por enquanto abandonada, segundo a qual os trabalhadores do espaço europeu seriam pagos nos países da prestação do trabalho segundo os valores praticados no país de origem (um canalizador suíço e um canalizador polaco, ambos a trabalhar na Suíça e a fazer exactamente a mesma coisa, poderiam ganhar 20 o primeiro e 2 o segundo)? A OCDE aplaudia! Têm presente o CPE de Villepin (tratamento completamente desregulado dos jovens à procura do primeiro emprego) retirado por força da indignação que suscitou? A OCDE defendia-o com paixão!<br /><br />Vejo com lástima Mariano Gago associado a este novo-riquismo e complacente com humilhações públicas gratuitas e dispensáveis.<br />Professor do ensino superiorJNShttp://www.blogger.com/profile/08797195078480904290noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2346954805050907085.post-54458936398543964352006-12-08T17:49:00.000-08:002006-12-08T17:52:51.224-08:00Um ministério?<span style="font-family:Arial;"><span style="font-size:85%;"><div><div><span style="font-size: 12px;"><p><a name="10f64dddbe400eb8_ES240253">No Expresso de hoje, o seguinte texto de <span style="font-family:Arial;"><span style="font-size:85%;"><a name="10f64dddbe400eb8_ES240253">Joaquim Manuel Magalhães:</a></span></span><br /></a></p><p><a name="10f64dddbe400eb8_ES240253">"Quando andava a estudar nos dois últimos anos do liceu (os 6.º e 7.º), aqueles a seguir aos quais poderíamos ingressar na universidade, estudei Literatura Portuguesa. O 6.º ano foi das Cantigas Medievais até não sei onde, rebentando-nos a cabeça com sintaxes.<br /></a></p><p><a name="10f64dddbe400eb8_ES240253">A senhora morreu ou mudou de terra. No ano a seguir foi minha professora Judite Beatriz de Sousa. Não sei o que aconteceu, mas a literatura tornou-se o centro da minha despedida da adolescência. Ou sei: aquela mulher obrigava-nos a ler, pegava no que líamos e elucidava-nos do que estava envolvido naquilo que líamos, numa linguagem exacta, clarificadora e sempre disponível para nos falar de um outro livro ainda.<br /></a></p><p><a name="10f64dddbe400eb8_ES240253">A Literatura Portuguesa nunca mais me abandonou: e era tão-somente aquilo - ler, comentar, comparar com um outro texto, inscrever numa época bem delineada, conseguir construir com algum esmero algumas frases.</a></p> <p><a name="10f64dddbe400eb8_ES240253">A sedução do ensino depende do professor. Eu dei este meu exemplo. Ainda deve haver hoje quem possa dar exemplos assim. Em breve já não haverá. Não depende somente do aluno ou das regras de uma qualquer instituição escolar. Um professor só é bom se, além do programa, nunca parou de estudar, nunca perdeu a curiosidade, sempre continuamente se informou não dos modos como ser professor mas dos âmbitos do saber a que se encontrava ligado.<br /></a></p><p><a name="10f64dddbe400eb8_ES240253">Para isso precisava, antes de tudo o mais, de ter uma ligação afectiva à matéria que ensinava, dinheiro para sempre ir comprando livros sobre essa matéria, tempo para os ler.</a></p> <p><a name="10f64dddbe400eb8_ES240253">Esta verdade óbvia não a tem ao seu dispor quem é mal pago, quem não tem tempo livre para, fora da escola onde ensina, se sentar a ler/estudar dentro de uma vida em que não chegue a casa estupidificado por horas inúteis encerrado num estabelecimento enlouquecido por comissões executivas que são «cães» de qualquer ministério que surja.<br /></a></p><p><a name="10f64dddbe400eb8_ES240253">Poderão alguns professores não gostar do que fazem, admito. Mas o melhor é afastá-los dos alunos depois de umas horas obrigatórias de contacto; e não forçar os alunos a estarem continuamente cercados por quem gostaria de ter outra profissão. Como em tudo, aparecem sempre professores alertados e competentes que salvam a formação de um adolescente se não andarem a arrastar-se de cansaço e de revolta por corredores em que já nem conseguem pensar.</a></p> <p><a name="10f64dddbe400eb8_ES240253">O ensino secundário português começou a ser estragado por Veiga Simão. Culminou com Roberto Carneiro e os seus esquecimentos bem calculados do ensino público. Tornou-se uma espécie de rodilha mal cheirosa, de esfregadela em esfregadela, atirada ao caso para entre um lixo inominável por todos estes ministros de que ninguém lembra o nome, como eu nem sequer sei o da actual. Sei que é uma pobre senhora que não vale a pena, com uma voz desgastada, empurrada a destruir a quase final hipótese de haver qualidade no ensino secundário português.</a></p> <p><a name="10f64dddbe400eb8_ES240253">A prioridade do ensino deixou de ser transmitir saberes. Hoje culmina em planificações de um pouco de vazio no máximo de tempo possível. Ouvindo-se a palavra planificar, imediatamente sabemos que as chamadas pedagogias e didácticas passaram a ter o domínio sobre os conteúdos de cada disciplina e gerou-se uma complicação de saberes sem saberes, que consiste na aplicação de umas grelhas às quais se junta um cuspo de meditações bacocas nunca se percebe bem sobre o quê.<br /></a></p><p><a name="10f64dddbe400eb8_ES240253">Um professor de biologia tem de saber biologia? Não. Tem de saber planear umas aulas que encaixem num programa oficial que enumera o que da biologia basta saber. Houve uma conjura que não foi só desta situação que se chama ministra; resultou de vários anos de fermentações bem calculadas de que ela se apoderou.</a></p> <p><a name="10f64dddbe400eb8_ES240253">Percebi com clareza o desastre que se aproximava numa reunião em que estive, por um enganoso convite, com vários professores universitários que se especializavam em ensinar a ensinar o estrito das suas matérias. Não foi por acaso que olhares de quem conhece os corredores onde andam os apaniguados do ministério se trocaram entre um de matemática e alguém de português. Não foi por acaso que ninguém se preocupou com os conteúdos dos saberes. Apenas se ouvia zumbir ou silvar (por entre torvos cálculos) umas vagas conjuras que pouco se entendiam.<br /></a></p><p><a name="10f64dddbe400eb8_ES240253">Os olhares, vi eu, circulavam entre essas pessoas de duas das mais centrais disciplinas, como quem suspende por momentos uma conjura escura. Já tinham tudo combinado. Eu rapidamente me vim embora, deixando gente a falar sem compreender que tudo não passava daquelas miradas baixas, iguais ao pior pó do chão.</a></p> <p><a name="10f64dddbe400eb8_ES240253">Será ministério o que podemos chamar ao mero cruzamento (basta que somem as disciplinas controladas por esta espécie de repelência) de panóplias estratégicas?</a></p> <p><a name="10f64dddbe400eb8_ES240253">Voltando à Literatura Portuguesa. Suponho que vai ser difícil alguém encontrar outra Judite Beatriz de Sousa. Ela está cansada de horas inúteis dentro de escolas imbecilmente obedientes, não só à ministra de agora, que em breve será substituída por outro anónimo qualquer, mas a esta imundície que a todos empurra.<br /></a></p><p><a name="10f64dddbe400eb8_ES240253">Beatriz de Sousa anda perdida com estratégias, planificações e modos de lhe destruírem o que ela podia oferecer ao ensino do português. Tem esta nova gramática imbecil pela frente, que se contorce numa pestífera linguística que vai tapar a beleza de quaisquer palavras com novas imbecilidades gramaticais, ainda mais idiotas do que a mecânica aplicação das anteriores. (Pensar nas gramáticas que os ingleses têm, tão linearmente compreensíveis.)<br /></a></p><p><a name="10f64dddbe400eb8_ES240253">Reduziram a qualidade e a necessidade de um texto à noção de que tudo é texto - uma merda qualquer, um jornaleco qualquer - para aí exercitarem o seu ódio ao que não seja o repelente tecnicismo. A par desta enxúndia, por todo o lado se instalou a rameira da didáctica. Mas terá ainda para destruir? Para destruir há sempre algo mais.<br /></a></p><p><a name="10f64dddbe400eb8_ES240253">O pior é que reconstruir o que ficou coberto pela lama mais imunda demora muito mais do que o desaparecimento desta gente e do que ela representa. Pode demorar um tempo que já nem os alunos de agora alguma vez vejam.</a></p> <p><a name="10f64dddbe400eb8_ES240253">Da filosofia à educação visual, da língua estrangeira à química, de todos a cada um, pergunte-se: têm vontade de sempre ler e estudar o que lêem? Têm dinheiro para isso? Têm tempo vosso para poder dar um alto conseguimento aos vossos alunos? É da educação o vosso ministério?"</a></p></span></div></div></span></span>JNShttp://www.blogger.com/profile/08797195078480904290noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2346954805050907085.post-78295064945278375232006-12-07T02:42:00.000-08:002006-12-07T02:44:15.452-08:00Estudos denunciam selecção de alunos nas escolas públicas<div id="edImpTitulo">Estudos denunciam selecção de alunos nas escolas públicas</div><div id="edImpTexto" style="font-family: verdana; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; font-size: 10px; line-height: normal; font-size-adjust: none; font-stretch: normal; color: rgb(153, 153, 153);">Isabel Leiria<br /></div><p>Investigador diz<br />que a situação, gerada<br />por professores e pais,<br />é "democraticamente inaceitável"</p>O processo é difícil de avaliar porque "não é assumido pelos protagonistas". Mas são vários os estudos que comprovam que as escolas públicas fazem uma selecção social dos seus alunos.<br /><br />Escolhem quem fica, quando a procura supera a oferta e fazem-no através da constituição de turmas que agrupam os alunos consoante a origem social e trajecto escolar, denunciaram ontem dois investigadores responsáveis pelo trabalho Diversidade e desigualdade na escola, apresentado em Lisboa.<br /><br />"O sistema discrimina os alunos por escolas, por turmas e por vias de ensino, o que aumenta os processos de desigualdade e guetização social", defende Pedro Abrantes, do Centro de Investigação e Estudos de Sociologia do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE). Isso mesmo constataram diversos estudos feitos no âmbito deste centro de investigação. Parte foi sintetizada no trabalho ontem apresentado, de Pedro Abrantes e João Sebastião, também investigador do ISCTE e coordenador do Observatório da Violência Escolar.<br /><br />Uma das investigações, da autoria de João Sebastião e Sónia Vladimira, concluída em 2005, analisou os resultados dos alunos de quatro escolas públicas da mesma área geográfica e com o mesmo nível de ensino. Para além da composição social ser distinta - duas tinham maioritariamente jovens de meios sociais favorecidos e pais com altas habilitações e as restantes tinham sobretudo filhos de operários e empregados -, os resultados acompanhavam essa diferenciação.<br /><br />No estabelecimento de ensino em que os pais dos alunos eram sobretudo "profissionais e dirigentes" o número de estudantes que aos 15 anos tinha chumbado mais de uma vez ficava-se pelos sete por cento. Na escola constituída maioritariamente por filhos de "operários e empregados" a percentagem disparava para os 49 por cento. Na primeira, 82 por cento dos alunos nunca tinham ficado retidos; na segunda acontecia com 33 por cento.<br /><br />Numa outra investigação, realizada em 2001, numa escola básica do concelho da Amadora, os autores Joana Campos e Sandra Mateus constataram a mesma "segmentação dos alunos de acordo com as suas trajectórias escolares e origem social".<br /><br />Interesses particulares<br /><br />"Dentro da própria escola criaram-se universos paralelos - uma turma de alunos de classe média, com trajectórias de excelência e uma outra de estudantes de um bairro social, com trajectórias de fracasso - e que nunca se encontravam devido a horários muito distintos", descreve Pedro Abrantes.<br /><br />Questionados sobre a forma como tinham chegado à conclusão de que as escolas "fabricavam as turmas", João Sebastião invocou pesquisas e descreveu um caso que, por motivos familiares, conhece particularmente bem.<br /><br />"É uma escola em que de manhã só há turmas de alunos brancos e à tarde estão todos os filhos de africanos, o único aluno deficiente que havia, os que vieram do jardim de infância e foram sinalizados como tendo problemas comportamentais e aqueles que vinham de fora e o estabelecimento de ensino não os conhecia. Isto é prática corrente."<br /><br />Outro "método" com que diz já se ter deparado traduz-se na inscrição prévia, em Junho, de todos os estudantes da zona administrativa adstrita à escola, incluindo dos bairros sociais. "Chega-se a Setembro e a direcção afirma que afinal não tem vagas e que os alunos têm de ir para a escola no fim da rua. Numa o insucesso ronda os sete por cento e na outra é de 30 por cento."<br /><br />O investigador afirma que a situação decorre muitas vezes de "interesses de professores, que querem os melhores alunos e poucos problemas, e da própria pressão dos pais, que querem o melhor para os filhos". E são os encarregados de educação das classes médias, altas, "com melhor conhecimento do funcionamento das escolas, que têm essa capacidade para pressionar".<br />João Sebastião considera a situação "democraticamente inaceitável e até inconstitucional" e lembra que a criação de turmas socialmente seleccionadas "tem consequências importantes para a aprendizagem". "Este é um processo relativamente oculto, que acontece quando a escola está fechada e em que nenhum autor se assume como protagonista", conclui.JNShttp://www.blogger.com/profile/08797195078480904290noreply@blogger.com0