Tuesday, January 30, 2007

Neta da última "bruxa" presa no Reino Unido em campanha para limpar o nome da avó

Do Público de hoje:

"Esteve nove meses na cadeia e foi visitada por Winston Churchill; morreu em 1956.

Helen Duncan nasceu na Escócia em 1827. E nos anos 40 do século passado tornou-se numa médium famosa. Conta-se que entre os seus clientes estavam várias personalidades, entre as quais Winston Churchill. Agora, 50 anos depois da sua morte, uma neta sua dá a cara por uma campanha destinada a limpar o nome de alguém que a justiça condenou com base numa lei do século XVIII: Helen Duncan foi uma das últimas mulheres a serem presas por bruxaria, no Reino Unido.

Chama-se Mary Martin a neta de Helen Duncan. Tem 72 anos e é responsável por uma petição (www.prestoungrange.org/helenduncan) que reclama um perdão póstumo para a avó, que morreu em 1956. "Ela não cometeu nenhum crime", diz, em declarações à Associated Press (AP).

Mary Martin, que vive na Escócia, conta como quando era pequena era gozada pelos colegas de escola. "Diziam: "És a neta de uma bruxa." Mas ela era apenas uma mulher com um dom." Na cidade onde vivia, o caso que envolveu a sua avó caiu que nem uma bomba. Mary nunca se livrou do estigma de ter uma avó "bruxa".

Recentemente, escreveu ao ministro do Interior britânico, John Reid, e pediu-lhe uma audiência. E tem-se desdobrado em entrevistas para publicitar a sua campanha. Várias centenas de pessoas já assinaram a petição, assegura a AP.

A história de Duncan foi recentemente contada numa reportagem do diário britânico The Guardian. Curiosamente, os problemas da famosa médium começaram durante a II Guerra Mundial, por causa de um navio: o HMS Barham.

O barco tinha-se afundado, mas as autoridades britânicas não revelaram de imediato o facto para que a tragédia não desse cabo do moral colectivo. Contudo, Duncan falou do acidente - contou aos pais de um marinheiro que o seu filho teria morrido a bordo do navio que se afundara. Considerou-se então que Duncan e os seus poderes misteriosos estavam a pôr em causa a segurança pública, numa altura em que as autoridades militares preparavam em segredo o Dia D.

Em Janeiro de 1944 a polícia entrou-lhe pela casa. Foi acusada de prática de "magia negra" e presa durante nove meses com base numa lei de 1735 - a primeira acusação do género num século, segundo conta o The Guardian.

Duncan cumpriu pena num presídio no Norte de Londres, onde chegou a ser visitada pelo primeiro-ministro Churchill, que, ainda de acordo com o jornal, considerava a sentença uma "patetice".

De resto, em 1951 Churchill acabaria por revogar essa lei do século XVIII que punha atrás das grades as alegadas "bruxas". Mas Helen Duncan morreu com o peso da acusação que a levou à cadeia."

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